Título: Mãos ao bumbo
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 28/04/2007, O Globo, p. 2

Na quinta-feira o governo volta a tocar seu bumbo, apresentando o balanço dos primeiros três meses do PAC. Em entrevista coletiva, acompanhada de outros ministros, a ministra Dilma Rousseff apresentará a situação dos projetos, das obras e do fluxo de investimento. Para o governo, 75% dos projetos caminham bem, 15% exigem atenção e apenas 10% fazem acender a luz vermelha.

Mas, entre estes últimos, certamente, estão as importantíssimas hidrelétricas do Rio Madeira, objeto do conflito em curso entre o Ministério do Meio Ambiente, o de Minas e Energia e os ministros do GPAC, o grupo de acompanhamento e gestão do PAC, chefiado pela ministra Dilma. E, embora o presidente Lula tenha endossado as pressões contra o Meio Ambiente, o que ele espera agora, segundo assessores, é que se chegue o mais rapidamente possível a uma fórmula que ofereça segurança ambiental sem atrasar mais ainda o início das obras.

Do lançamento do PAC para cá, na avaliação do governo, o ambiente macroeconômico só melhorou. A revisão do PIB de 2006, pelo IBGE, tornou mais factível o crescimento de 4,5% este ano, meta inicialmente vista com muito ceticismo. O risco Brasil baixou aos 140 pontos, os juros caíram e o mercado trabalha com a perspectiva de que venham a cair mais. Em janeiro, trabalhava-se com um horizonte de 11,5% de juros reais, agora puxados para 10,75%.

A oposição vem dizendo que muito pouco dinheiro foi liberado para obras que dependem do Orçamento federal. O governo minimiza. Estamos em abril, o que não caracterizaria, ainda, atraso na execução orçamentária. Já o cronograma da área habitacional, que tem grande poder gerador de empregos, caminha bem. A partir da semana que vem, estados e municípios interessados em recursos para investir em moradia e urbanização de assentamentos precários poderão participar da seleção de projetos do Ministério das Cidades. O Rio proporá a urbanização de pelo menos duas grandes favelas. As verbas virão do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), que este ano destinará R$1 bilhão ao financiamento para famílias de baixa renda.

Na quarta-feira, a Câmara concluiu a votação das medidas provisórias do PAC, que agora começam a ser apreciadas pelo Senado. A maioria do governo é bastante precária ali. Os líderes Arthur Virgílio (PSDB) e José Agripino (DEM) anunciaram que vão adotar posição rigorosa em relação às MPs do governo. Elas de fato vêm impondo às duas Casas do Congresso um caráter homologatório. Travam a pauta, impedindo outras votações, e, se a oposição vota contra, como se queixa Virgílio, é acusada de sabotar a educação, a saúde ou o crescimento. Está certa a oposição em combater o excesso de MPs, mas, em relação ao PAC, ela tende a ser mais indulgente. Primeiro, para não correr o risco de ficar contra um programa que pode deslanchar, assim como fez o PT no lançamento do Real. Depois, o própio Lula vem atuando para reduzir a resistência dos senadores de oposição. Já esteve com ACM, Tasso Jereissati, Romeu Tuma, Edison Lobão e Júlio Campos. Em todos esses encontros, fez o proselitismo do PAC, da necessidade de convergência entre governo e oposição em favor do crescimento. Agora veremos se o exercício de sedução foi eficaz.