Título: Noite com calor e sem jantar
Autor: Rocha, Carla e Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 28/04/2007, Rio, p. 12

Dezessete presos chegaram à cadeia após a refeição e contaram apenas com um ventilador.

A primeira noite de 17 presos da Operação Hurricane, da Polícia Federal, num alojamento do Batalhão Especial Prisional, em Benfica, foi de muito calor e sem jantar. Eles dormiram em nove beliches cedidos pela PF e tinham apenas um ventilador. Como chegaram anteontem à unidade por volta das 22h, após o jantar ter sido servido, passaram a noite comendo biscoitos comprados por seus advogados. Os presos ficarão em Benfica até o dia 7 de maio, quando terminam os depoimentos na Justiça Federal.

O almoço de ontem ¿ arroz, feijão, costelinha de porco, batatas e pudim de caramelo de sobremesa ¿ foi recusado pelos 17 acusados, segundo funcionários da empresa que fornece quentinhas para o batalhão.

¿ Eles disseram que vão pedir comida num restaurante melhor. As quentinhas ficaram lá ¿ disse o funcionário, que não se identificou.

O comandante da unidade, tenente-coronel Carlos Rodrigues de Barros, garantiu, no entanto, que eles almoçaram a mesma refeição que 332 PMs presos no batalhão:

¿ A comida servida aqui é saborosa, elaborada por uma nutricionista. O Turcão (o contraventor Antônio Petrus Kalil) é o único que tem uma dieta especial, recomendada pelo médico ¿ argumentou.

Dos 17 presos transferidos de Brasília na quinta-feira, apenas Virgílio Medina, que teria intermediado a venda de uma sentença em nome do irmão, o Ministro do STJ Paulo Medina, retornou para Brasília. Ana Claudia Rodrigues do Espírito Santo, a única mulher do grupo, passou a noite numa dependência da Polícia Federal. Ela era secretária da Associação de Bingos do Estado (Aberj) e, segundo a polícia, tinha a tarefa de auxiliar o policial civil Marcos Bretas no repasse da propina mensal destinada aos funcionários públicos cooptados pelo bando. Nagib Teixeira Sauid e João Oliveira de Farias, que estavam foragidos e se apresentaram quarta-feira à juíza da 6 ªVara Federal, estão detidos no Batalhão Especial Prisional.

¿ Estão todos juntos. A ordem é deixá-los longe dos outros detentos. E visitas, somente no fim de semana e na quarta-feira ¿ disse o comandante.

O único a receber visita foi Turcão, que foi examinado por seu médico. Apesar de ter passado bem a noite, ontem o contraventor aguardava a transferência para o hospital penitenciário em Bangu, para fazer exames. O movimento de advogados foi intenso durante toda a manhã no batalhão. Um deles reclamou, dizendo que 14 presos passaram a quinta-feira dentro de um ônibus, aguardando o depoimentos dos contraventores Aniz Abrahão David, o Anísio, Turcão e Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães.

¿ Ficaram das 6h até as 22h algemados, dentro de um ônibus, no pátio da Justiça Federal. Vou levar isso ao conhecimento da juíza do processo ¿ disse o advogado Castelar Guimarães, que defende Jaime Garcia Dias.

Escoltados por dois carros da Polícia Federal, os acusados Júlio Cesar Guimarães, José Renato Ferreira e Paulo Roberto Lima deixaram o batalhão no início da tarde e seguiram para a Justiça Federal, onde prestaram depoimento. Júlio Cesar, sobrinho do Capitão Guimarães, é apontado como tesoureiro da organização.