Título: 'Foram contribuições sentimentais, simbólicas''
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 29/04/2007, O País, p. 4

Doadores dizem ter feito empréstimos.

BRASÍLIA. Para justificar a doação de valores que não declararam dispor em conta corrente, os deputados federais dizem que fizeram empréstimos ou que tinham recursos aplicados, anotados em suas declarações do Imposto de Renda, e não na declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral. Essa declaração é pública, ao contrário do que ocorre com o Imposto de Renda. O líder do PR na Câmara, Luciano Castro (RR), informou que se desfez de bens e fez empréstimo.

- Tomei um empréstimo de R$90 mil no Banco do Brasil e ainda estou pagando. Está tudo declarado no meu Imposto de Renda.

Outro que também diz ter feito empréstimos foi José Nobre Guimarães (PT-CE).

- Fiz dois empréstimos, um no Banco do Brasil e outro no Bradesco.

Já Waldemir Moka (PMDB-MS) diz que economizou e que tinha uma aplicação financeira que somava R$187 mil, além de R$33 mil na conta corrente. As informações não constam da declaração de bens entregue à Justiça.

- Não sou eu quem faço a declaração de bens - afirmou, argumentando que seu patrimônio está registrado em seu nome e que não tem muitas posses. - Sou muito rigoroso nessas coisas.

Já Ciro Nogueira (PP-PI) explicou que fez grandes amigos na Câmara e essas pessoas precisavam de ajuda.

- Foram contribuições simbólicas, sentimentais. Doei para demonstrar a essas pessoas que acredito no trabalho delas e queria compartilhar de suas vitórias.

Ciro, segundo secretário da Mesa Diretora e ex-corregedor da Câmara, na época dos escândalos do mensalão e dos sanguessugas, disse que sua empresa está sediada no Maranhão - na divisa com o Piauí - e que nenhum dos amigos que ajudou é maranhense. Se fosse assim, diz, poderia haver suspeitas de que sua intenção seria se beneficiar de alguma forma.

Ciro afirmou que doou por espontânea vontade.

- Ninguém me pediu nada - disse o deputado.

Sobre o fato de ter dado dinheiro até para parlamentares de outros partidos, ele argumentou que se guiou pela amizade, e não pela legenda.

Ciro afirmou que Simão Sessim (PP-RJ) é um "segundo pai" para ele. Sobre Léo Alcântara (PR-CE), disse que o conhece desde menino. Ciro refutou a suspeita de que as doações a colegas seriam recibo para recursos obtidos por meio de caixa dois.