Título: Lobby até nos corredores de ministério
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 29/04/2007, O País, p. 13

João Grandão, do PT, tenta liberação de verbas para Dourados

BRASÍLIA. Os envolvidos no escândalo dos sanguessugas, que não se reelegeram, continuam levando vida como se ainda fossem parlamentares e tentam, por exemplo, usar sua influência para liberar recursos para suas bases. É o caso de João Grandão (PT-MS). O lobby do petista em favor de sua cidade, Dourados, é registrado na página oficial da prefeitura do município. Grandão foi a Brasília na última terça-feira, onde esteve no Ministério das Cidades para pedir a liberação de recursos destinados a obras de asfaltamento, além de R$1,3 milhão para construção de escolas indígenas no estado. O prefeito de Dourados, Laerte Tetila, é do PT.

A repercussão do escândalo atingiu em cheio o destino político dos 69 deputados citados pela CPI dos Sanguessugas; dois renunciaram ao mandato, 23 desistiram de concorrer e 44 foram candidatos à reeleição, mas apenas cinco tiveram sucesso.

O ex-deputado Cleuber Carneiro (PTB-MG) esteve na Câmara semana passada, onde sempre é visto nos corredores. Por conta da denúncia, ele não se reelegeu e ficou apenas na sexta suplência da sua coligação partidária. Abordado pelo GLOBO, Carneiro - que se definiu como um "grão de areia num Saara de corrupção" - foi evasivo:

- Por favor, me deixa fora disso. Estou machucado. Tenho 34 anos de vida pública, não quero mexer mais com isso - disse Carneiro, que é empresário e fazendeiro.

Mas, perguntado sobre o que fazia em Brasília, ele respondeu com ironia:

- Vim acompanhar o meu Cruzeiro (que jogou na quarta-feira contra o Brasiliense).

"Aquela CPI foi um palanque eleitoral"

Outro que é visto com freqüência no Congresso é o ex-deputado Lino Rossi (PP-MT), que sequer tentou a reeleição. O ex-deputado João Caldas (PR-AL), que não concorreu à reeleição, preside o partido em Alagoas, mas não sai de Brasília, onde freqüenta o gabinete da Liderança do PR. Caldas disse na quinta-feira que não decidiu se abandona a vida pública. A CPI o acusou de receber R$136 mil do esquema dos Vedoin. Ele nega.

Por falta de tempo, seu processo não foi julgado no conselho, mas o relator do caso, José Eduardo Cardozo (PT-SP), apresentou parecer no qual concluía que havia elementos suficientes para cassar seu mandato:

- Aquela CPI foi um palanque eleitoral. Estou tranqüilo e o veredicto final é que não tem nada contra mim.