Título: Longe dos políticos, Jeany Corner quer escrever livro
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 29/04/2007, O País, p. 14

Cafetina se diz traída por ex-clientes e passa dificuldades.

BRASÍLIA Em agosto de 2005, Jeany Mary Corner teve uma reviravolta em sua vida quando, numa sessão da CPI dos Correios, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) perguntou à diretora financeira da agência SMP&B, Simone Vasconcelos, se ela conhecia a "cafetina Jeany". Ela virou, então, alvo de investigação da Polícia Federal, da própria CPI, e passou a ser assediada pela mídia. Um ano e meio depois, Jeany se encontrou no aeroporto de Brasília com o mesmo senador que a havia tirado do anonimato das festas de políticos e autoridades da capital federal.

- Demóstenes, você acabou com a minha vida! Por que o senhor citou o meu nome na CPI? - cobrou Jeany.

De lá para cá, ela tentou reabrir o seu negócio, mas não teve sucesso. Conhecida como empresária do ramo de entretenimento masculino na capital, ela diz estar distante do mundo político e pensando em escrever um livro. Jeany conta que está analisando propostas de editoras que a procuraram para que relate sua história. Ela espera ganhar dinheiro para retomar a vida. Segundo Jeany, sua situação só não é pior por causa da ajuda do ex-marido, pai de seus dois filhos.

Enfrentando dificuldades financeiras, Jeany não conseguiu voltar para o ramo de "entretenimento de luxo de Brasília", como classifica seu antigo negócio. Lembra com saudade dos tempos em que era considerada a principal agenciadora de recepcionistas para festas de políticos e empresários em Brasília.

- Tinha noite em que eu não conseguia atender a todos os pedidos - lembra.

Ela organizou festas para o empresário mineiro Marcos Valério, pivô do escândalo do mensalão, e para o advogado de Ribeirão Preto Rogério Buratti, ex-assessor do hoje deputado federal Antonio Palocci (PT-SP).

Ao mesmo tempo em que se transformou numa celebridade - chegou a ser madrinha do bloco carnavalesco Siri na Lata, do Recife - ela viu a sua clientela evaporar.

- Meu negócio precisava de discrição. Depois que fui para os holofotes, todo mundo fugiu. Os amigos do passado, que me ligavam de madrugada, sumiram. As pessoas têm medo de meu telefone estar grampeado.

Durante uma hora e meia em que conversou com O GLOBO, na semana passada, Jeany, nervosa, fumou sete cigarros, pôs como condição não falar de seus antigos clientes e resistiu a tirar fotos. Mas quando decidiu, fez questão de retocar a maquiagem. De frente para a câmara fotográfica, chorou:

- Eu me sinto abandonada. Sou a única que não teve culpa no mensalão. Só estava fazendo o meu trabalho. Todo mundo que tinha culpa hoje está bem. Só eu fui prejudicada.

Mas afirma que outras pessoas tomaram o seu lugar na noite de Brasília:

- As festas em Brasília continuam. Mas não têm mais o brilho do tempo da Jeany.

www.oglobo.com.br/pais