Título: Rezek e Brossard davam trabalho às profissionais
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 29/04/2007, O País, p. 14

Ex-ministros usavam linguagem empolada em votos longos

BRASÍLIA. A supervisora de taquigrafia do STF, Silvana Gomes da Costa, diz que a atual formação do tribunal é a que trata a língua portuguesa de forma mais carinhosa. Ela reclama de ministros aposentados temidos pelo setor. O primeiro da lista é Francisco Rezek.

- Ele tinha uma linguagem muito rebuscada e usava muitas metáforas. Chegava a ser difícil de acompanhar - conta.

Entre os ex-ministros, Paulo Brossard é outro que dava trabalho. Autor de votos longos, ele costumava interromper o raciocínio para digressões. Nelson Jobim também era adepto desse estilo quando estava na corte. Já a dificuldade com Ilmar Galvão era outra:

- Ele tinha um sotaque baiano muito forte.

Cláudia Cruz, no tribunal desde 1992, diz que, como as colegas, já se acostumou aos termos jurídicos. Pudera: boa parte da equipe é formada em direito ou tem pós-graduação na área. Ela revela que, além de desenvolver a velocidade na escrita, os taquígrafos adquirem audição ímpar.

- Conseguimos distinguir a voz dos ministros sem ter de levantar a cabeça para ver quem está falando. Mesmo que eu esteja de férias, se ouço algum ministro dando entrevista na televisão, já sei quem é sem precisar olhar - revela.

"Excelência, o lustre está pegando fogo!"

Silvana, uma carioca que está em Brasília desde a infância, conta que a profissão exige discrição. É preciso sentar-se no centro do plenário, baixar a cabeça e anotar tudo por meio dos sinais da taquigrafia. Mas, aos risos, recorda situações em que teve de alterar a conduta. Numa delas, enquanto fazia suas anotações, sentiu fagulhas caírem sobre o papel. Olhou para cima e viu o lustre pegando fogo. Quem presidia a sessão era o sisudo Moreira Alves, já aposentado, que se espantou ao dar com Silvana de pé, interrompendo o debate dos ministros:

- Excelência! Está pegando fogo! - gritou.

Em outra ocasião, registrava uma sessão de turma quando a luz acabou. O então presidente do colegiado, o também já aposentado Néri da Silveira, quis cancelar o julgamento porque, sem energia, a gravação não poderia ser feita.

- Excelência, pode continuar. A taquigrafia está aqui para isso - explicou.

Apesar de ainda não ser profissão regulamentada no Brasil, a taquigrafia dá bons rendimentos. As taquígrafas do STF são concursadas. O salário inicial é de R$R$4.736,61. Em final de carreira chega a R$7.607,46. A reclamação, contudo, é a alta demanda de trabalho. Além de cobrir as sessões três vezes por semana, devem registrar eventos da corte e discursos dos ministros na vida pública.

- O ideal seria ter duas vezes mais profissionais - explica Silvana.