Título: Lei é melhor que certificação
Autor: Melo, Liana e Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 29/04/2007, Economia, p. 30

Presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho não é favorável à criação, pelo Inmetro, de uma certificação socioambiental para o etanol produzido no Brasil.

Liana Melo

O Inmetro está discutindo a criação de uma certificação socioambiental. O que o senhor acha disso?

PEREIRA DE CARVALHO: Isso não é uma tarefa do Inmetro. Ele só está habilitado a definir as especificações intrínsecas do produto. Além do mais, já existe uma ampla legislação ambiental e trabalhista no país. Basta exigir o cumprimento da lei e quem não cumpri-la que seja punido.

A Comunidade Européia disse que só vai comprar etanol de país certificado.

CARVALHO: Nosso produto tem por finalidade o abastecimento interno. Além do mais, o mercado internacional está fechado para nós e não é porque não temos certificação. É porque os países do Norte são protecionistas e estão fazendo de tudo para proteger seu próprio mercado.

A cana no Brasil volta e meia está associada a trabalho escravo...

CARVALHO: Falar é fácil, difícil é provar. Em São Paulo isso não acontece. Além do mais, qual é o problema de índio cortar cana? Queriam que ele ficasse bebendo pinga na beira da estrada? Existe uma enorme má vontade com os usineiros, ainda mais depois que Lula nos transformou em heróis. É claro que há desvio de conduta na produção, mas a grande maioria da cana é produzida dentro das normas legais.

O etanol brasileiro virou a menina-dos-olhos dos investidores internacionais. O senhor está apostando nesse momento?

CARVALHO: A história brasileira não viu ainda uma oportunidade tão clara e desenhada como essa. É uma janela de oportunidade muito importante, ainda mais porque a produção de cana-de-açúcar tem uma possibilidade enorme de propagar a riqueza na região onde é plantada. Em São Paulo, por exemplo, a cana gerou riqueza por causa do efeito multiplicador que provoca.