Título: 'É fundamental o cumprimento do contrato em vigor pela Bolívia'
Autor: Barbosa, Flávia e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 29/04/2007, Economia, p. 31

SANTIAGO. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, está de malas prontas para a viagem que fará, a partir de sexta-feira, a países como Argélia, Qatar e Trinidad e Tobago, a fim de negociar contratos de compra de gás. Preocupado com a situação na Bolívia, destacou que o governo corre para antecipar em um ano as ações para que o país se torne menos dependente do gás boliviano.

Eliane Oliveira

Como o Brasil vem se preparando para se tornar menos dependente do gás da Bolívia?

SILAS RONDEAU: Há pelo menos um ano, existe todo um esforço feito pelas empresas do Brasil, principalmente pela Petrobras, em concluir os principais gasodutos, colocar em operação as unidades de processamento de gás e intensificar as atividades exploratórias, além de implementar duas unidades de regaseificação. Nós já avançamos bastante e estamos administrando novos pontos de entendimento que aumentariam a oferta do gás. Mas entendemos que é fundamental o cumprimento do contrato em vigor pela Bolívia. Por outro lado, é importante perceber que, com toda a crise, em nenhum momento houve suspensão do fornecimento do gás, e o preço do produto para o Brasil segue a regra combinada no contrato. As três interrupções que ocorreram foram acidentais. Duas, quando chuvas romperam o gasoduto, e uma devido a um problema sociopolítico.

Problemas internos que não dependem do governo boliviano?

RONDEAU: Exatamente. O governo boliviano foi extremamente rápido ao garantir que todo o esforço seria feito para não haver interrupção. Para nós, há todas as condições para restabelecer a confiança para se construir uma verdadeira aliança energética.

O governo está preocupado com a possibilidade de Morales anunciar surpresas desagradáveis em 1º de maio, como o confisco do caixa das duas refinarias?

RONDEAU: Tenho visto pela imprensa essa ameaça, mas venho conversando com o ministro (dos Hidrocarbonetos) Carlos Villegas. Não acredito em qualquer movimento que comprometa o bom nível de relações recomposto este ano. Acredito que a verdadeira aliança, a integração da América do Sul, deve ser construída sobre pilares sólidos, de confiança, reciprocidade e visão comprometida com o futuro.

O senhor parece otimista quanto a um acordo em relação às refinarias?

RONDEAU: Acredito que encontraremos um ponto de equilíbrio.

Parece que Morales quer pagar menos do que exige a Petrobras.

RONDEAU: Isso é natural em qualquer negociação. As conversas estão bem, e as reuniões são pautadas por um clima sério e profissional.

Quando o acordo será fechado?

RONDEAU: Na última conversa com o Villegas, ele disse que o tempo é muito importante, mas não é limitador.

A Bolívia é um fator menor no plano de aumento da produção de gás?

RONDEAU: O Brasil está crescendo bastante, e o contrato da Bolívia tem um volume fixo. Em uma equação como esta, a participação do gás da Bolívia deve diminuir.

De onde o Brasil importará gás?

RONDEAU: Há um mercado mundial: Qatar, Nigéria, Argélia, Trinidad e Tobago... Viajo, sexta-feira, para identificação e contatos. O presidente determinou que o assunto é prioritário.

É possível imaginar um navio chegando ao Brasil com GNL este ano?

RONDEAU: Difícil, não impossível.