Título: Ensaiando a emancipação
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 30/04/2007, O Globo, p. 2

Enquanto o presidente Lula e seu governo tiverem a força, os partidos do campo lulista estarão juntos, mas sem descuidar do futuro, do tempo em que já não terão a tábua da unidade. O chamado Bloco de Esquerda, composto por PSB, PCdoB e PDT, está discutindo os termos de um manifesto político que lançarão na próxima semana: nele, reiteram o apoio a Lula, mas tratam de firmar identidade própria como opção de esquerda ao PT.

Este é obviamente um movimento que tem como horizonte a sucessão de 2010, quando o bloco poderá concorrer com um nome próprio, e não apoiando um petista, como têm feito sempre o PSB e o PCdoB . O PDT apoiou Lula no segundo turno de 1989 e Brizola foi o vice na chapa de 1998. É cedo, mas no regime de reeleição é assim. Tão logo o presidente reeleito toma posse, começam as articulações para sua sucessão, já que ele não poderá mais concorrer. O bloco tem um candidato em potencial, o ex-ministro Ciro Gomes, que Lula e uma parte do PT vêm cercando de atenções, exatamente para evitar que ele e seu bloco se distanciem o suficiente para inviabilizar uma aliança em 2010. Ouve-se no PT que a hipótese de o partido não ter candidato próprio não existe. Mas, no círculo mais próximo de Lula, ela é admitida.

Foi mais para agradar a Ciro que, na semana passada, Lula consumou a partilha do Ministério dos Transportes, desagradando à bancada do PR, para entregar a nova Secretaria de Portos a Pedro Brito (que foi o secretário-executivo e o sucessor de Ciro no Ministério da Integração Regional).

Alguns petistas (diz-se que por orientação de Lula) vêm mantendo a conversa com Ciro sempre em dia. Entre os interlocutores estão o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-presidente do PT José Genoino, ambos colegas de Ciro na Câmara. Nessas conversas, têm concordado num ponto: o campo lulista não terá favoritismo automático na disputa de 2010. Pelo contrário, se os tucanos vierem com uma boa chapa, tipo Serra-Aécio, terão uma boa chance. Para conservar o poder, o campo lulista depende basicamente do êxito do segundo governo Lula, vale dizer, do sucesso do PAC e da economia. E também, é claro, da unidade da coalizão. Aécio Neves, vale recordar, também vem mantendo contatos freqüentes com Ciro. Veria no socialista um bom vice, caso seja ele, e não Serra, o candidato tucano em 2010.

O movimentos emancipacionistas do Bloco de Esquerda incomodam os petitas. Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu está criticando o ato que a UNE (dirigida pelo PCdoB), o MST (que vem se distanciando do governo), o PSOL e o PSTU, da oposição de esquerda ao governo, programaram para amanhã, 1º de maio. Na convocação, criticam a política econômica e as reformas trabalhista e previdenciária, entre outras. É um direito do PCdoB, diz Dirceu, lembrando, porém, que o partido tem um ministério e outros cargos no governo.

Ensaios para um futuro em que a grande coalizão lulista deve se desintegrar.