Título: Corregedor nega acusações
Autor: Bottari, Elenilce
Fonte: O Globo, 30/04/2007, Rio, p. 8

Reportagem da "IstoÉ" revela outro esquema de venda de sentença.

BRASÍLIA. O corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Antônio de Pádua Ribeiro, disse ontem que nunca recebeu proposta para vender uma decisão judicial quando atuava como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo reportagem publicada no fim de semana pela revista "IstoÉ", escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil de Brasília mostram, em maio de 2005, o chefe de gabinete do ministro, Cícero Celso de Sousa, supostamente negociando uma ação de indenização estimada à época em mais de R$60 milhões.

- Trata-se de conversas mafiosas, de criminosos que discutem uma sentença que eu não proferi. Essas denúncias não têm nenhuma consistência - disse Pádua Ribeiro, que convocou uma entrevista coletiva para se defender.

A escuta integra a investigação de uma máfia especializada em fraudar concursos públicos, que seria comandada pelo ex-funcionário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal Hélio Ortiz. É Ortiz quem conversa com Cícero, dizendo-se representante do dono da distribuidora de bebidas Única, de Cuiabá, que processava uma filial da Ambev. A ação não foi julgada por Pádua Ribeiro. Antes de dar a sentença, ele foi transferido para o CNJ e o processo, redistribuído. À revista "Isto É", Pádua Ribeiro atrubuiu à denúncia ao fato de ele ser corregedor do CNJ, o que teria provocado a reação de pessoas que estão sendo atingidas pelas "medidas tomadas", fazendo alusão à Operação Hurricane.

Num trecho, Cícero tenta aproximar Ortiz do genro do ministro, o advogado Gabriel Portella. "Esse negócio tem que ser você, e o Badi (dono da empresa) e o Gabriel. Acabou (...) É boquinha miúda, (...) que o troço sai", diz Cícero a Ortiz, segundo a gravação divulgada ontem pelo próprio Pádua Ribeiro.

Em outro trecho, Ortiz diz que a empresa teria dado um adiantamento a Gabriel: "Até passaram uma graninha para o Gabriel".

Pádua Ribeiro contou que, de fato, seu chefe de gabinete procurou Gabriel. Mas disse que ele apenas o teria convidado para representar a empresa de Cuiabá na causa. O ministro afirmou que, ao tomar conhecimento das gravações, em junho do ano passado, afastou o chefe de gabinete e pediu à Polícia Federal e à Procuradoria Geral da República que investigassem o caso.