Título: Um empreendedor que lutou pela democracia
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Fonte: O Globo, 30/04/2007, Rio, p. 12

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA.O empresário Octavio Frias de Oliveira reinventou sua trajetória profissional aos 50 anos ¿ e imprimiu sua marca na imprensa brasileira. Até então servidor público e empreendedor financeiro e imobiliário, Frias adquiriu, em 1962, o controle acionário do jornal ¿Folha de S.Paulo¿, em sociedade com Carlos Caldeira Filho. Ativo até o crepúsculo da vida, o publisher do Grupo Folha, nascido em Copacabana, na Zona Sul do Rio, no dia 5 de agosto de 1912, freqüentou diariamente o trabalho até novembro 2006, quando foi internado, depois de um queda em casa.

Penúltimo dos nove filhos do casal Luiz Torres de Oliveira e Elvira Frias de Oliveira, Octavio Frias viveu uma infância marcada pela tristeza de uma perda repentina: a mãe morreu quando ele tinha apenas sete anos. Mas o desalento não o tirou do combate. Foi office-boy, mecanógrafo, servidor público e, por fim, empresário. Carlos Caldeira e Octavio Frias foram sócios da Folha até o início da década de 90. Depois disso, o grupo, que abrange o portal UOL, o jornal ¿Agora¿, o Instituto Datafolha, a editora Publifolha e o diário econômico ¿Valor¿ (em parceria com as Organizações Globo), passou a ser controlado pela família Frias.

Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do empresário, ressaltando a ¿personalidade marcante e cativante, que unia simplicidade, dinamismo, inteligência e confiança no Brasil¿. Ele afirma que ¿o Brasil perde um dos seus mais lúcidos e destacados homens de imprensa¿. O presidente destacou ainda que Frias foi responsável pela modernização e transformação do jornal ¿Folha de S. Paulo¿ em um dos mais importantes órgãos de comunicação do país. ¿Conheci-o nos anos difíceis em que lutávamos para superar o autoritarismo e reconquistar a democracia. Desde aquela época, ficamos amigos. Tinha por ele grande respeito e carinho¿, diz o presidente.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também lamentou a morte do empresário:

¿ Ele era não apenas um empreendedor do jornalismo, mas um vanguardista. Foi responsável por uma verdadeira revolução na mídia.

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da Câmara, disse que Octavio Frias de Oliveira entrará para a história do Brasil como um empreendedor:

¿ Por ter uma visão muito além da comercial, transformou a ¿Folha de S. Paulo¿ num dos maiores jornais do país, e assim contribuiu para a construção de um Brasil mais consciente de suas virtudes e também de seus erros ¿ disse Chinaglia.

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), classificou a morte do amigo como uma ¿perda imensa¿.

¿ São tantas as coisas boas a dizer sobre o 'seu' Frias: sua inteligência, sua obra como criador e editor de um grande jornal, suas convicções democráticas, sua capacidade para combinar as virtudes da coragem e da prudencia, sua impecável cortesia e objetividade nas relações pessoais e profissionais. Era um grande amigo, um conselheiro franco e afetuoso para todas as horas. Ele fará muita falta a todos nós."

O senador José Sarney (PMDB-AP) estava fora do país, mas manifestou, por meio de assessores, sua tristeza:

¿ Octavio Frias foi pioneiro de um jornal moderno, na feição gráfica, na linguagem, no tratamento da notícia, na inarredável crença de que o jornalismo é a voz crítica do povo. Vai com ele uma parte do meu universo sentimental, do querer bem na convivência. O Brasil está menor.

O maestro João Carlos Martins, um dos principais pianistas brasileiros, define Octavio Frias de Oliveira como ¿o grande ombro do Brasil¿. Segundo o maestro, além de grande jornalista, Octavio foi conselheiro de brasileiros dos mais variados segmentos:

¿ Nos momentos mais difíceis de minha vida, tive o seu ombro como apoio. Ele ficou no livro da minha vida.

Conselheiro do jornal ¿Folha de S. Paulo¿, Rogério Cesar Cerqueira Leitte se emocionou ao falar da morte de um de seus maiores amigos:

¿ Todos sabem que ele foi um grande jornalista. Mas, antes, se tratava de um homem de muita tolerância, que sempre se destacou pela falta de preconceito.

O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer também lamentou a morte de Octavio Frias durante a missa na Catedral da Sé para sua posse como arcebispo da Diocese.

O jurista Hélio Bicudo afirmou que imprensa brasileira sofre com a perda de Octavio Frias de Oliveira.

¿ Eu sempre considerei Octavio Frias como um jornalista e não como um proprietário de jornal. Foi ele quem estabeleceu a linha de independência da ¿Folha de S.Paulo¿ ¿ disse Bicudo.

Roberto Irineu Marinho, João Roberto Marinho e José Roberto Marinho, presidente e vice-presidentes das Organizações Globo, enviaram à família Frias mensagem de solidariedade pela morte de Octavio Frias de Oliveira, em que ressaltam a luta do empresário pelos valores democráticos e republicanos do país.

¿Nessa hora de imensa dor, nós das Organizações Globo prestamos nossa solidariedade a vocês, à sua família, a seus amigos e a seus colaboradores. O que sempre nos impressionou na figura de seu pai, Octavio Frias de Oliveira, foi a sua disposição para empreender, invariavelmente à custa de muito esforço e de muita perseverança. Para nós, sempre foi fascinante encontrar nesse espírito empreendedor o sucesso da Folha de S. Paulo. Não sendo no início de sua trajetória no jornal propriamente um jornalista, e fazendo questão de não esconder isso, ele soube sempre o que um jornal deveria ser. Em suas próprias palavras: `Sério, honesto e que só publicasse verdades.¿ Ao lado disso, sua crença no país e sua luta para que os valores democráticos e republicanos prevalecessem entre nós foram uma fonte permanente de inspiração para todos os que com ele tiveram a chance de conviver. Nesse momento de dor, saber que essas lições são hoje uma crença compartilhada não somente por seus filhos, mas por todos os que colaboram com o Grupo Folha, deve servir, sem dúvida nenhuma, como motivo de consolo¿, diz a nota.

Depois da queda em casa, em novembro, Octavio Frias foi submetido a uma cirurgia para remoção de hematoma craniano. Desde que recebeu alta, em janeiro, o empresário vinha se recuperando na casa de sua filha Maria Cristina. Ele morreu ontem, aos 94 anos, de insuficiência renal e deixa a viúva, Dagmar Frias de Oliveira, e os filhos Maria Helena, Otavio, Maria Cristina e Luís. O velório será hoje, às 9h, no Cemitério Gethsêmani, São Paulo.