Título: Aposta é que Wolfowitz deixa Bird hoje
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 30/04/2007, Economia, p. 15

Banco Mundial analisará acusação de nepotismo. Advogado diz que ele não renuncia.

WASHINGTON. O destino de Paul Wolfowitz, o presidente do Banco Mundial (Bird), deverá ser decidido hoje pelo conselho diretor da instituição. A julgar por declarações de alguns diretores e membros de uma comissão especial que vem investigando sua administração, a aposta é a de que ele venha a ser demitido ou forçado a renunciar. O ex-número dois do Pentágono é acusado de nepotismo e de elevar em US$61 mil o salário anual de sua namorada, Shaha Ali Riza, que é funcionária do Bird.

- Ele não renunciará sob essa sombra. Ele não cederá às táticas de constrangimento - disse Robert S. Bennett, advogado contratado por Wolfowitz.

Porém, se depender dos funcionários do Bird, Wolfowitz já está fora da entidade. Segundo Alison Cave, presidente da Associação dos Empregados do banco, 90% dos trabalhadores querem que ele renuncie.

- O que ele fez afeta o banco - disse ela.

Defesa já prepara estratégia de apelação

Esta manhã, Wolfowitz será ouvido pela comissão, que, em seguida, emitirá um parecer. Segundo fontes do Bird, só mesmo um milagre salvará o presidente, pois documentos reunidos pelo grupo comprovariam que ele cometeu irregularidades. O depoimento de Wolfowitz é visto apenas como uma formalidade. A tendência a uma decisão fatal para ele é tão grande que, antes mesmo do depoimento, o advogado Bennett já está acenando com uma apelação.

- Se é verdade que já chegaram a uma conclusão sem lhe dar a chance de se defender, isso é injusto, e apenas mostra que ele não terá essa oportunidade. Será (a audiência) apenas uma simulação? - indagou Bennett.

No fim da tarde, os 24 membros da diretoria, representando os 185 países associados, vão se reunir para analisar o documento com o veredito da comissão especial e tomar uma decisão. A expectativa é de que contenha a recomendação de demissão do presidente. Otaviano Canuto, diretor do Brasil no Bird, é um dos 24 executivos que votarão, decidindo o futuro de Wolfowitz.

Países de Ásia, América Latina e União Européia (UE) têm manifestado incômodo com a situação criada por Wolfowitz, comprometendo a credibilidade do Bird. O Parlamento Europeu chegou a pedir a saída dele. Por 333 votos a 251 (com 31 abstenções), foi aprovada uma resolução convocando a Alemanha, que ocupa a presidência rotativa da UE, e os EUA a solicitar a renúncia de Wolfowitz.

O fato de ter determinado pessoalmente a promoção e o aumento salarial para Shaha Riza (que também vai depor hoje), agora é tido como a ponta de um iceberg, ou, como disse um dos diretores, "a gota d"água que fez transbordar o copo". O conselho do Bird também vai analisar outras ações de Wolfowitz, desde a concessão de salários vultosos a seus assessores ao estilo de análise de contratos de financiamentos da instituição.

Ao ser informado de que, pelas regras do Bird, ele não poderia ter sob sua supervisão a própria namorada, Wolfowitz arranjou com o governo dos EUA para transferir Shaha para o Departamento de Estado, mas continuando a receber salários do banco. Mas, ao fazer isso, ele deu a ela uma promoção mais elevada do que permitia o banco, além de dois aumentos salariais também acima do limite estabelecido.

Shaha, que ganhava US$132.600 anuais, passou para US$193.590. Ela passou, inclusive, a ganhar US$10 mil a mais do que a própria secretária de Estado, Condoleezza Rice, de quem se tornou subordinada. Além disso, os rendimentos de Shaha são isentos de impostos.

Wolfowitz desculpou-se publicamente, alegando que concedera a promoção para compensar o fato de que Shaha teria de interromper sua carreira no Bird, enquanto ele estivesse à frente do banco. Mas, para seus críticos, Wolfowitz, que fez do combate à corrupção e ao nepotismo a bandeira do Bird, comprometeu a credibilidade da instituição.

(*) Com agências internacionais