Título: Bando é acusado também de vender transferências entre universidades
Autor: Martin, Isabela e Duran, Sergio
Fonte: O Globo, 01/05/2007, O País, p. 3

De acordo com a polícia, fraude garantiu pelo menos 50 vagas em cinco estados

RIO e FORTALEZA. A operação Vaga Certa foi deflagrada na madrugada de ontem e contou com 50 homens da Polícia Federal. A quadrilha também é acusada de comercializar transferências entre universidades. Por meio do mesmo esquema, pessoas que cursavam universidade privada pagavam à quadrilha para que um "piloto", com nome falso, fizesse prova de admissão e conseguisse vaga no mesmo curso em universidade pública.

A polícia acredita que pelo menos 50 vagas foram conseguidas dessa forma, metade delas no Ceará e o restante no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais e no Paraná.

O esquema funcionava há pelo menos cinco anos e foi intensificado a partir de 2004. Segundo a polícia, os aliciadores usavam armadilhas para atrair candidatos. Numa delas, distribuíam panfletos em cursinhos preparatórios para vestibular contendo vagas informações sobre como ingressar no curso de medicina na Bolívia, onde não é necessária a prova do vestibular. Quando o interessado ligava, falavam do esquema de compra de vagas nas universidades brasileiras.

Os "pilotos" recrutados agiam em vários pontos do Brasil. Na casa da mãe de Olavo, Maria de Fátima Vieira de Macedo, a polícia apreendeu comprovantes de passagens aéreas. Em depoimento, a estudante Aline Saraiva Martins confirmou sua participação uma única vez, viajando para prestar vestibular em universidade particular do Rio. Mas disse que agiu sob coação. Ela contou que não teve como pagar empréstimo de R$3 mil que pegara com Olavo Vieira e ele a ameaçou:

- Ou você entra no esquema, ou está morta - teria dito Olavo.

Aline alegou ter ficado com medo. Ela está negociando com a polícia a delação premiada. O advogado, Afro Lourenço, vai entrar com pedido de habeas corpus alegando falta de antecedentes criminais.

- Aline fez isso como forma de pagar a dívida - disse o advogado.

Melhores alunos de cursinhos e calouros eram recrutados

A polícia ficou surpresa ao apreender papéis onde os "pilotos" anotavam informações sobre o exato local da sala em que sentaram para fazer a prova e o tema da redação. Segundo o delegado Osvaldo Scalezi, a identificação das pessoas que pagaram pela vaga nas universidades será feita a partir de agora.

Olavo Macedo seria responsável por identificar e recrutar os melhores alunos de cursinhos ou calouros de universidades para fazer as provas do vestibular e de transferências no lugar dos candidatos inscritos que comprassem o serviço. Os fraudadores também identificavam candidatos inscritos no vestibular, mas que não tinham passado nas provas.

Em alguns casos, houve também divulgação através de folhetos distribuídos na porta de cursinhos. Aos interessados, os estelionatários pediam que fosse enviada para um número de caixa postal a documentação de inscrição nas provas e a carteira de identidade. O documento era falsificado para ser utilizado pelo piloto.

- Em cada local onde houvesse uma seleção, eles tinham um "piloto" à disposição, ou alguém viajava até o local - explicou Pompilio.

O procurador da República responsável pela denúncia, Marcello Miller, disse que a sociedade estava sendo duplamente lesada:

- Há dois aspectos negativos na atuação da quadrilha: a contratação de universitários para substituir os candidatos que compravam as vagas e o fato de as vagas compradas serem para cursos de medicina. O dano para a sociedade é duplo: corrompem-se exames vestibulares e abrem-se as portas para médicos com formação básica deficiente, afirmou.