Título: Quadrilha fraudava vestibulares
Autor: Martin, Isabela e Duran, Sergio
Fonte: O Globo, 01/05/2007, O País, p. 3

PF prende sete pessoas que vendiam vagas em universidades por até R$70 mil.

APolícia Federal prendeu ontem sete pessoas, duas no Rio e cinco no Ceará, envolvidas num esquema de venda de vagas em universidades públicas e privadas em pelo menos seis estados, na maioria dos casos para cursos de medicina. As peças-chave no esquema eram os chamados "pilotos", jovens universitários com histórico escolar brilhante, que substituíam os verdadeiros candidatos nas provas do vestibular, usando documentos falsos. Um balancete da contabilidade do crime, apreendido durante a operação Vaga Certa, da PF, revelou que o preço da vaga nas universidades variava de R$15 mil a R$70 mil.

A negociação dependia do curso e do poder aquisitivo dos interessados. Normalmente o valor menor era para uma colocação em universidades privadas. O preço mais alto foi pago pela compra de uma vaga no curso de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), segundo o delegado Osvaldo Scalezi, da delegacia fazendária do Rio, que acompanhou a operação no Ceará. Há provas da venda de pelo menos 20 vagas. A polícia acredita que os acusados receberam valores que, somados, chegam a cerca de R$500 mil.

O principal suspeito de comandar a quadrilha é o universitário cearense Olavo Vieira de Macedo, de 29 anos. Ele seria o principal aliciador de "pilotos", que ganhavam até R$6 mil por cada aprovação conseguida. Olavo está no interior do Rio Grande do Sul e deve se apresentar à polícia hoje. No Rio, a polícia prendeu Anélio Cedaro, de 60 anos, e Neide Alvarenga Cedaro, de 50 anos, no apartamento onde moram, na Tijuca. De acordo com o chefe da Delegacia Fazendária, Lourenzo Martins Pompilio - responsável por coordenar a operação - o casal era a ligação de Olavo no Rio, administrava contatos com "pilotos" e fazia depósitos do dinheiro movimentado com as fraudes.

A denúncia criminal e o pedido de prisão preventiva dos acusados foram feitos pelo procurador da República Marcello Miller. Segundo ele, as investigações começaram em agosto do ano passado, depois de uma denúncia da tentativa de venda de uma vaga numa universidade de Santa Catarina. Com a quebra de sigilo telefônico e bancário, os policiais identificaram Olavo como o agenciador da quadrilha em diversos estados.

Universitários sob suspeita são presos

Em Fortaleza, foram presas cinco pessoas que atuavam como "pilotos", entre elas duas estudantes do curso de medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Aline Saraiva Martins, de 21 anos, e Mariza Bandeira de Araújo, de 28 anos. Também foram presos na capital cearense Pedro Hugo Bezerra Maia Filho, estudante de enfermagem da UFC, e Francisco do Nascimento Moura Neto, que cursa direito na Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição privada.

Foram cumpridos sete dos nove mandados de prisão e oito de apreensão expedidos pelo juiz da 3ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Lafredo Lisboa. As investigações começaram por iniciativa do Ministério Público Federal, com interceptações telefônicas e quebra de sigilo bancário e fiscal dos acusados.

Com a prisão dos principais suspeitos, a polícia pretende fechar a relação de todas as universidades que foram vítimas do esquema. A PF diz já ter provas confirmando que a fraude atingiu algumas das mais renomadas instituições públicas do Brasil, como a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Estadual do Ceará (Uece) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói.

A polícia diz não acreditar que haja envolvimento das universidades no esquema fraudulento.

- Chegamos a pensar nessa possibilidade, mas, na verdade, as faculdades estão sendo lesadas - disse o delegado Osvaldo Scalezi.