Título: Governo enfrenta manifestações e críticas
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 01/05/2007, Economia, p. 15

As vésperas do 1º de Maio, sindicalistas tomam as ruas de La Paz e invadem ministério

LA PAZ. As comemorações do 1º de Maio na Bolívia não serão tão amistosas como gostaria o presidente Evo Morales. Apesar de contar ainda com significativo apoio popular, greves pipocam pelo país. Os profissionais de saúde estão em greve geral, os professores realizaram ontem uma paralisação de advertência e setores de mineiros estão pedindo a cabeça do porta-voz da Presidência, Alex Contreras.

Cerca de 400 profissionais da área de saúde invadiram, ontem pela manhã, o Ministério da Saúde e dos Esportes, na Praça dos Estudantes. A ministra da Saúde, Nila Eredia, trancou-se no gabinete, enquanto os manifestantes do lado de fora pediam sua renúncia. A polícia foi convocada às pressas, mas não foi registrado qualquer incidente mais grave. Em campanha salarial, a Confederação Sindical dos Trabalhadores de Saúde da Bolívia acusa o governo de intransigência, mesmo depois de terem recuado da proposta original de reajuste de 20% para a categoria.

- O governo está irredutível e diz que não negocia - acusa o presidente da entidade, José Gonzales, que estava entre os 400 profissionais da saúde que invadiram o ministério.

Os manifestantes recuaram da proposta original e dizem estar dispostos a negociar um reajuste de 6%, mas o governo não abre mão de sua proposta de 5%. Os profissionais estão pedindo ainda a aprovação de uma política de cargos e salários e bônus para o setor.

Os professores, apontados como aliados tradicionais do Movimento ao Socialismo (MAS), base de apoio político do governo, mudaram de lado. Ontem, eles iniciaram uma paralisação de 48 horas e advertiram que podem radicalizar, caso o governo não negocie a reforma educacional.

A situação é pior entre os mineiros, que exigem a renúncia de Contreras. A categoria alega que o decreto criando a Cooperación Minera de Bolívia (Comibol) - que passará a ser dona da mina de Huanuni, em Oruro - é ilegal. Essa mina era operada por pequenos mineradores, num total de cinco mil. O representante dos mineiros no parlamento é o deputado Peter Maldonado, da União Nacional (UN, partido considerado de centro-direita).

Apesar das pressões, uma recente pesquisa encomendada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) apurou que Morales conta ainda com um apoio popular de praticamente 65% dos eleitores. Apesar de ser um índice bastante alto, é inferior ao do início de seu governo, quando chegou a 80%. (Liana Melo)