Título: Energia nuclear está nos planos do IPCC
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Fonte: O Globo, 01/05/2007, Ciência, p. 22

Uma nova geração de reatores promete solucionar problema do lixo atômico.

A versão preliminar do terceiro relatório do IPCC diz que, entre as medidas sugeridas pelos cientistas para a reduzir as emissões de CO2 e amenizar as conseqüências das mudanças climáticas, está o aumento do uso da energia nuclear. Polêmica para ambientalistas, a nuclear é uma solução indispensável segundo o criador da Teoria de Gaia e precursor do movimento verde, James Lovelock. O motivo da opção nuclear é simples: as emissões de CO2 dessa forma de energia são muito baixas. Enquanto a geração de um megawatt de eletricidade representa a emissão de 955 quilos de CO2/ano por uma usina carvão; 818 por uma a óleo e 446 se for a gás; a nuclear emite apenas quatro e, mesmo assim, só durante o processo de construção da usina. Outro fator destacado é a eficiência: uma pastilha de um centímetro cúbico de urânio contém a mesma quantidade de energia que três caminhões de petróleo.

O texto do IPCC, que teve partes antecipadas por agências de notícias, destaca a necessidade de implementar a utilização desse tipo de energia agora e desenvolver novas tecnologias nucleares até 2030. No Brasil a discussão acontece num momento em que o governo planeja levar adiante a construção de Angra 3 e aumentar a participação da nuclear na matriz energética. O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, Odair Dias Gonçalves, diz que, se o Plano Nacional de Energia 2030 for levado adiante, o Brasil poderá construir quatro usinas de mil megawatts a cada três ou quatro anos. Segundo ele, o Brasil precisa diversificar sua matriz energética.

¿ O Brasil tem imenso potencial. Somos o sexto país do mundo em reservas de urânio e podemos chegar a segundo, pois só cerca de 30% do território foram investigados. Além disso, dominamos todo o ciclo de combustível ¿ diz Gonçalves.

Para ele, o fato de o programa nuclear brasileiro estar parado há a cerca de 20 anos, não será um entrave tecnológico:

¿ Nunca paramos de pesquisar. Há vários centros de estudo no Brasil e a própria CNEN tem não só um número de patentes grande na área como mantém cursos de pós-graduação em seus institutos (Ipen, IEN, IRD). O IEN, por exemplo, tem um mestrado profissionalizante.

Pesquisadores dizem que a terceira geração de reatores, chamados intrinsecamente seguros, está disponível para o mercado. Os Estados Unidos, por exemplo, já têm planos prontos para associar usinas de reatores de terceira geração com outras para produção de hidrogênio, outra fonte considerada promissora. E cientistas esperam que a quarta geração de reatores nucleares chegue ao mercado em 30 anos. São reatores regeneradores, que usam o próprio lixo radioativo por séculos até quase exauri-lo..

¿ Esses reatores resolvem o maior problema da energia nuclear, a questão dos rejeitos. Eles estão em estudo em todo o mundo. Aqui no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) fazemos pesquisa nessa área porque a vemos como estratégica. Ela não só resolve o que fazer com os rejeitos quanto torna o ciclo nuclear perene e sustentável ¿ diz Celso Marcelo Lapa, professor do programa de pós-graduação em ciência e tecnologia nucleares do IEN.(Ana Lucia Azevedo)