Título: Acredite se quiser
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 02/05/2007, Rio, p. 11

Carro de escolta de Cesar Maia, com fuzil, é furtado na Barra; delegacia é abandonada.

Usado na escolta do prefeito Cesar Maia, o Santana prata placa LCD-3810 foi furtado ontem à tarde, na Barra da Tijuca. No interior do veículo, havia um fuzil AR-15 e cinco carregadores ¿ dois com munição 5.56 e três de pistola calibre 40. O carro estava sob a responsabilidade de dois sargentos da Polícia Militar e um guarda municipal, que atuam na segurança do prefeito. Cesar Maia classificou o episódio como descuido e assegurou que o caso será investigado pela Coordenadoria Militar da prefeitura.

O Santana estava estacionado na Praça Euvaldo Lodi, próximo à Rua Olegário Maciel, quando foi levado. Os seguranças estavam almoçando e só notaram o furto quando retornaram ao local, às 13h. Apesar disso, o caso só foi informado às 16h15m à maré zero, freqüência de rádio usada pela Polícia Militar para alertar unidades e patrulhas sobre crimes em andamento. Policiais do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes) realizaram cercos na região, mas, até a noite, o carro e o fuzil não tinham sido recuperados.

Por e-mail, o prefeito Cesar Maia informou que o caso seria repassado ao coronel Antônio Amaro, responsável pela coordenação da equipe de segurança. Apesar de admitir que houve negligência dos seguranças ao deixar o fuzil e os carregadores no veículo estacionado, o prefeito afirmou se sentir seguro por contar com o serviço dos três profissionais. ¿Estou absolutamente seguro, pois, mesmo tendo havido descuido, minha equipe tem sido impecável. Não há relação com a competência dos profissionais nas funções de segurança especificas¿, afirmou o prefeito na mensagem.

Os dois sargentos e o guarda municipal passaram parte da manhã fazendo a escolta de Cesar Maia em São Conrado. No início da tarde, o trio seguiu para a Barra da Tijuca, onde parou para almoçar. No registro na 16ª DP (Barra da Tijuca), os seguranças informaram que o Santana pertencia a uma locadora contratada pela prefeitura.

Cesar Maia informou que as armas usadas pela Coordenadoria Militar da prefeitura pertencem à polícia. ¿Elas são requisitadas e registradas. Provavelmente, a prefeitura deverá indenizar a Secretaria de Segurança Pública (SSP)¿, disse ele, no e-mail.

Diretor do Departamento de Estudos Estratégicos e de Segurança da Universidade Federal Fluminense (UFF), Ronaldo Leão classificou como extremamente grave o episódio envolvendo a segurança do prefeito. Segundo ele, o caso comprova ¿o despreparo e a falta de treinamento dos profissionais envolvidos¿.

¿ Um policial bem treinado jamais abandona a sua arma. Agora, se dois sargentos que estão fazendo a segurança do prefeito deixam um fuzil no carro, como se fosse um brinquedo, e vão almoçar, o que pode fazer um soldado recém-formado? ¿ pergunta Leão.

O especialista afirma.

¿ Esse fato caracteriza negligência, imperícia e imprudência dos envolvidos. Esse descuido vai reforçar o arsenal de alguma quadrilha com um fuzil, 60 balas de AR-15 e 33 de pistola calibre 40 ¿ diz Ronaldo Leão.

Ele lembra que um carregador de fuzil tem capacidade para 30 projéteis. O de pistola carrega 11 cartuchos. Segundo ele, no mercado negro, o fuzil e os carregadores podem ser negociados por até R$10 mil.

¿ O maior problema, no entanto, não está no prejuízo financeiro. O contribuinte vai pagar pela arma e, o pior, pode acabar transformado em alvo do bandido que comprar esse fuzil. É imperdoável ¿ classifica.

Procurado pelo GLOBO, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, considerou grave o fato de o fuzil ter sido furtado. Por intermédio da assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança, ele informou que o fato será investigado, para se saber se houve negligência ou envolvimento dos seguranças no furto da arma.