Título: Venezuela assume o controle das petrolíferas que operam no Orinoco
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 02/05/2007, Economia, p. 20

MUY AMIGO: Petrobras pode abandonar parceria com PDVSA em outro campo.

Medida inaugura nacionalização do setor. Empresas negociam indenizações.

PUERTO PIRITU (Venezuela), HOUSTON e RIO. O governo da Venezuela anunciou ontem, nas comemorações do 1º Maio, que tirou das mãos das maiores petrolíferas do mundo o controle operacional de projetos de exploração de petróleo na região do Orinoco. A medida é o passo inicial para a nacionalização promovida pelo presidente Hugo Chávez. A decisão afeta as americanas ConocoPhillips e Chevron; a britânica BP; a norueguesa Statoil; e a francesa Total, que concordaram em obedecer ao decreto de Chávez.

Em Houston, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que a decisão do governo venezuelano não afeta a estatal brasileira, que já havia transferido o controle de suas atividades naquele país em janeiro do ano passado. Hoje, as atividades da Petrobras na Venezuela se resumem à produção de 30 mil barris diários.

Salário mínimo sobe 20% e país sairá de FMI e Bird

Já o gerente-executivo da Área Internacional da Petrobras, Samir Passos Awad, disse que a empresa pode abandonar o projeto que mantém com a estatal venezuelana PDVSA, para desenvolver o Campo de Carabobo. Segundo Awad, a Petrobras quer que a PDVSA decida o valor do bônus, antes de assinar a parceria. Diante do impasse, a PDVSA ameaça fazer uma licitação.

- A Petrobras não pode entrar no bloco sem saber quanto vai pagar - afirmou Awad.

Os quatro campos de petróleo do Orinoco, cujo controle operacional foi retomado ontem pela Venezuela, estão avaliados em mais de US$30 bilhões e podem produzir diariamente 600 mil barris de petróleo pesado. Em Puerto Piritu, próximo à região, manifestantes comemoraram a transferência diante de um bem-humorado Chávez.

- O capital privado não voltará nunca mais - disse Chávez na segunda-feira, durante uma manifestação.

Chávez determinou ainda um aumento de 20% no salário mínimo do país e uma redução da jornada de trabalho. Chávez anunciou também que seu país vai se retirar oficialmente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

Na nacionalização das petrolíferas, as companhias terão até o próximo mês para discutir as indenizações. A Venezuela quer pagar o valor contábil e as companhias, o preço de mercado, bem maior.

Fidel volta a criticar produção de etanol

A Venezuela, oitavo maior exportador mundial de petróleo, vem se beneficiando dos altos preços da commodity no mercado internacional. Por isso, Chávez costuma fazer coro ao presidente cubano, Fidel Castro, nas críticas ao etanol.

Fidel, por sua vez, voltou a condenar o uso do biocombustível em artigo publicado ontem no jornal oficial "Gramma". Após reiterar sua amizade com Lula e o povo brasileiro, Fidel diz, porém, que "guardar silêncio seria optar entre a idéia de uma tragédia mundial e um suposto benefício para o povo dessa grande nação".

O líder cubano menciona, por exemplo, a invasão da cultura de cana-de-açúcar sobre as plantações de soja e as áreas de pasto, com impacto para alimentação. Fidel destaca ainda a precariedade e os riscos do trabalho na lavoura de cana, lembrando inclusive suas incursões no campo:

"Eu pessoalmente cortei cana não poucas vezes por dever moral", afirmou Fidel.

Fidel ataca o governo americano e o presidente George W. Bush, a quem classifica como "chefe do Império", citando a política protecionista americana, que taxa o biocombustível brasileiro, para proteger o etanol feito a partir do milho, cuja produção é mais cara e complexa. Por fim, o presidente cubano conclui seu artigo afirmando que a conjuntura atual impõe uma "revolução energética" que vá além da substituição das fontes convencionais de energia.

(*) Com agências internacionais. A repórter viajou a convite da Petrobras