Título: Bush veta retirada do Iraque
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Fonte: O Globo, 02/05/2007, O Mundo, p. 24

Presidente diz que projeto de lei enviado pelo Congresso é receita para caos e confusão.

WASHINGTON

Em mais uma queda-de-braço com o Congresso por causa da guerra no Iraque, o presidente dos EUA, George W. Bush, vetou ontem o projeto de lei, aprovado na Câmara dos Representantes e no Senado, que prevê o início da retirada dos militares americanos daquele país até outubro. Essa é a segunda vez desde que chegou à Casa Branca, em 2001, que Bush utiliza seu poder de veto, um recurso apontado por analistas como extremo. A proposta de retirada está vinculada ao repasse de cerca de US$124 bilhões para as Forças Armadas em caráter emergencial, verbas consideradas fundamentais pelo governo, que depende dos congressistas para aprová-lo.

¿ Esse é um projeto que define um prazo rígido e artificial, e por isso é inaceitável. É uma receita para o caos e a confusão. Não devemos impor essas condições nem a nossas tropas nem ao povo iraquiano ¿ disse o presidente, logo após vetar o projeto de lei, afirmando ainda que o projeto tem milhões de dólares em gastos não urgentes e não relativos aos conflitos no Iraque e no Afeganistão. ¿ Ele (o projeto de lei) não prioriza o que é realmente importante. O momento é de dar para nossas tropas tudo o que elas realmente precisam.

Bush usou pela primeira vez sua prerrogativa de veto em julho do ano passado para barrar uma lei que expandiria os estudos com células-tronco embrionárias. Na época, a decisão presidencial irritou alguns dos mais proeminentes cientistas do país e boa parte dos americanos, inclusive alguns de seu próprio Partido Republicano.

Medida prejudica tropas, diz senador

Os líderes democratas fizeram com que a entrega do projeto de lei a Bush coincidisse com o aniversário do discurso triunfal do presidente sobre o Iraque, em 1º de maio de 2003. Na data, Bush aproveitou uma cerimônia a bordo do porta-aviões USS Abraham Lincoln para declarar que as principais operações de combate no Iraque tinham terminado.

Horas antes do anúncio do veto, a presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, fez questão de encaminhar pessoalmente o projeto de lei à Casa Branca, e apelar para que Bush o sancionasse, alegando ser essa a vontade do Congresso. Após saber da decisão de Bush, Pelosi lamentou, dizendo que o presidente ¿quer um cheque em branco e o Congresso não dará¿.

¿ Essa é uma decisão que não respeita os soldados que estão no Iraque em meio a uma guerra civil. Também não respeita a vontade da população, que quer um fim para essa guerra ¿ atacou.

Já o senador Harry Reid, líder da maioria democrata no Senado, afirmou que a decisão do presidente pode prejudicar ainda mais a situação dos militares.

¿ Um veto significa negar aos nossos militares os recursos e a estratégia de que necessitam. O governo precisa ter consciência disso ¿ afirmou.

Dos US$124 bilhões solicitados pela Casa Branca em caráter emergencial, US$100 bilhões se destinam às tropas americanas no Iraque e no Afeganistão, e o restante vai para programas de defesa dentro dos Estados Unidos. Mas os congressistas só aprovaram os recursos condicionando-os a uma retirada que duraria seis meses, iniciada entre julho e outubro.

De acordo com as leis americanas, o Senado pode derrubar o veto do presidente se conseguir dois terços dos votos de seus membros. No entanto, analistas políticos afirmam que os democratas não têm votos suficientes, o que fará com que ambos os lados concordem em sentar para negociar. Segundo a Casa Branca, líderes do Congresso devem ter uma reunião com Bush sobre o tema ainda hoje.

¿ O presidente Bush precisa dos recursos, e o Congresso quer um cronograma. Nada será implementado sem um acordo entre ambos. Portanto, é certo que os dois lados chegarão a um consenso ¿ disse um alto funcionário do Executivo.

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