Título: Dirceu quer ser julgado logo
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 03/05/2007, O Globo, p. 2

Passando em Brasília, com a filha e a neta, o fim de semana prolongado pelo feriado, o ex-ministro José Dirceu teve alguns encontros políticos e conversou com jornalistas. Ele garante que, ao contrário do que se tem noticiado, sua prioridade é ser julgado logo pelo STF. Só então poderia pensar em anistia política.

O que ele mais receia é que o Supremo, aceitando a denúncia oferecida contra ele e mais 39 pessoas pelo procurador-geral da República Antonio Fernando - na qual é acusado de chefiar uma organização criminosa -, não consiga julgar o caso antes do tempo de prescrição. Muitos juristas consideram o STF absolutamente desequipado para conduzir um processo como aquele, em que só as testemunhas a serem ouvidas seriam mais de 900. Até agora, está sob a responsabilidade de um único ministro, Joaquim Barbosa. Dirceu ficou particularmente impressionado com o caso do ex-governador e hoje senador Joaquim Roriz, que recentemente viu prescrever uma acusação contra ele, iniciada há 14 anos, relacionada com as denúncias da CPI do Orçamento, de 1993.

- Quero ser julgado logo, na firme convicção de que o STF não me condenará. A prescrição é a pior das hipóteses, pois me privaria da absolvição perante a História.

Há poucos dias o STF recusou, por falta de provas, a denúncia contra o senador Aloizio Mercadante no caso do dossiê. Dirceu não sonha tanto, acha que o STF não teria condições políticas de fazer o mesmo no seu caso, afrontando setores da opinião pública, mesmo não dispondo de provas. O que deseja é ver o processo andar, e neste sentido tem feito chegar mensagens aos ministros do Supremo.

Uma vez absolvido, como acredita que será, sentir-se-ia liberado para pleitear a anistia política. A inocência no STF daria lastro e legitimidade a um processo de anistia que anulasse o julgamento político feito pela Câmara, sob intensa pressão da opinião pública, que lhe tirou os direitos políticos até 2015. Para ele, o ideal seria o STF decidir até o fim deste ano pelo acolhimento da denúncia, e em caso positivo, concluísse o julgamento até 2010. Não porque pense em disputar cargo na eleição daquele ano, deixou bem claro nas conversas que andou tendo. Diz isso porque conhece bem seu próprio terreiro. A militância petista continua a lhe oferecer grande apoio país afora, insistindo inclusive no movimento pela anistia. Mas, nas cúpula do partido, a demora pode interessar a alguns caciques que receiam a concorrência de um Dirceu com áurea de mártir e apoio da militância.

Seus defensores viram um sinal promissor na recente decisão do STF, de aceitar o processo aberto em Minas contra José Genoino, Delúbio, Valério e outros acusados no caso do mensalão. Dirceu não está entre eles. Se processos paralelos forem sendo abertos contra os 40, alguns até nas instâncias inferiores, crescem as chances de arquivamento do processo do procurador, sem que o STF seja acusado de promover a impunidade.