Título: Lula quer comprar imóveis para embaixadas
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 03/05/2007, O País, p. 10

Presidente afirma que é falso moralismo a opção atual do governo brasileiro de alugar os prédios no exterior.

BRASÍLIA. Durante a cerimônia de formatura de novos diplomatas ontem, no Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a possibilidade de o Brasil voltar a comprar imóveis no exterior para sediar suas embaixadas.

- Eu acho que vamos ter de retomar uma política que este país já teve, de comprar as nossas embaixadas - disse Lula, que acredita que ninguém vai reconhecer uma embaixada que muda a cada dois, três ou quatro anos.

- É importante que a embaixada brasileira seja uma marca no país onde estamos.

Governo aluga 79 imóveis para sediar as embaixadas

O presidente classificou de falso moralismo a opção atual de somente alugar espaços ao invés de comprá-los:

- Não sei qual é o falso moralismo ou a implicância que um país como o Brasil não pode comprar uma embaixada.

De acordo com Lula, o único presidente que se preocupou em adquirir quase todos os imóveis para as embaixadas brasileiras foi Getúlio Vargas. O presidente observou que o preço que se paga de aluguel por dez anos muitas vezes é suficiente para comprar o imóvel. Como exemplo, citou o caso da embaixada brasileira na Alemanha.

- Por conta não sei do que, estamos até hoje pagando aluguel. Comprar nossos próprios (imóveis) nos países é uma demonstração de que estamos naquele país definitivamente como marca registrada - afirmou.

Existem atualmente 79 imóveis alugados pelo governo brasileiro, que abrigam embaixadas como as de Berlim, Londres, Teerã, Panamá e Viena. Há 34 imóveis próprios, entre os quais Buenos Aires, Washington, Madri, Lisboa, Montevidéu e Roma. Alguns diplomatas contam, aliás, que o prédio na capital italiana foi trocado por uma carga de café na primeira metade do século XX.

Em seu discurso, Lula defendeu sua política externa, afirmando que é importante negociar com os países ricos, mas também é necessário que o Brasil se abra para novos mercados. Ele adiantou que o próximo alvo do país será a Ásia.

- Queremos uma política externa que seja a cara do Brasil democrático que estamos construindo - disse.

Presidente cobra respeito por outros países

O presidente declarou que o Brasil está sempre disposto a ouvir, mas também quer ser escutado. Ele defendeu que, nas negociações externas, é preciso ter engajamento e altivez, mas cobrou respeito pelos outros países, sejam eles pequenos ou grandes, ricos ou pobres.

Em um momento em que o Brasil vive um clima de conflito com a Bolívia por conta do programa de nacionalização daquele país, que afeta os interesses da Petrobras, o presidente Lula, sem se referir ao presidente Evo Morales, disse que humildade não é fraqueza e solidariedade não é sinônimo de ingenuidade. Por conta de negociações com a Bolívia, o Brasil já aceitou aumentar o preço do gás fornecido por aquele país, entre outras concessões.

Para Lula, o Brasil recuperou sua auto-estima, o que lhe permite conversar de igual para igual com os demais países. O presidente destacou que a prioridade brasileira em política externa é a América do Sul e, mais ainda, o Mercosul.

- As relações com nossos vizinhos nunca foram tão densas e intensas. Não foi fácil superar décadas de distanciamento entre nós. O processo de integração pode ser, às vezes, truculento, mas é indispensável.

O presidente afirmou estar convencido de que não há outro caminho para a América do Sul que não seja o da construção de um espaço econômico, político e social. Ele disse ainda que o país não pode se render aos interesses imediatistas ou às dificuldades conjunturais.