Título: Igreja Católica deixa de perder fiéis, diz FGV
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 03/05/2007, O País, p. 11

Estimativa é de que sejam 139 milhões. Número de pastores evangélicos é 3,7 vezes maior do que de padres.

O Brasil que espera a visita do Papa Bento XVI abriga hoje 73,9% de católicos. Estimativa feita pelo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ¿Economia nas Religiões¿ aponta a existência, em 2007, de 139,2 milhões de católicos no país e indica uma estabilidade em relação à década de 90 ¿ quando a queda foi de dez pontos percentuais (de 83,34% em 1991 para 73,89% em 2000). É o primeiro sinal de estabilização em um século. A religiosidade, indica o estudo, está em alta e o percentual dos que se declaram sem religião caiu: de 7,4% em 2000 para 5,1% em 2003.

Apesar da estabilidade do percentual de católicos, a leitura de dados do IBGE, feita pelo estudo, mostra que o número de pastores já superava, em 2000, o de padres. Existiam 17,9 vezes mais pastores evangélicos por fiéis do que de padres por católicos. O número de pastores era 3,7 vezes maior que o de padres. A proporção era de um para um em 1991. De acordo com o pesquisador Marcelo Neri, coordenador da pesquisa, os dados apontam para uma tendência de aumento dessa diferença.

País tem 23,1% de evangélicos

O percentual de evangélicos continua crescendo ¿ de 9% em 1991 para 16,2% em 2000 e para 17,9%, em 2003. O cálculo para este ano é de que haja 43,6 milhões de evangélicos, o que equivale a 23,1% da população, segundo o estudo. Apesar de percentualmente em menor número, os evangélicos pentecostais são responsáveis pelo pagamento da maior parte dos dízimos arrecadados pelas igrejas: 44%. Os evangélicos tradicionais, por 22,7% e os católicos, por 30,9%.

Mesmo pagando o maior percentual de dízimo, os evangélicos pentecostais apresentam a menor renda familiar per capita: R$1.496 ¿ um valor 30% menor do que o dos católicos. Os adeptos das religiões orientais são os mais abastados. De acordo com a compilação de dados do Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2003, do IBGE, eles têm renda média de R$5.447. Os católicos, segundo o estudo, recebem renda média mensal de R$2.023. A contribuição mensal dos católicos é de R$11, para R$34 dos pentecostais e R$33 dos evangélicos tradicionais.

Já identificada em outras pesquisas ¿ como ¿Retratos da Religião no Brasil¿, lançada em 2005, com dados do censo de 2000 ¿, a tendência à concentração dos evangélicos pentecostais nas periferias dos grandes centros urbanos é confirmada pelo estudo da FGV.

O catolicismo prosperou nas zonas rurais, o que explicaria sua estabilidade no país, segundo Marcelo Neri. Há 84,26% de católicos nas zonas rurais para 7,17% de evangélicos. Já nas periferias metropolitanas, a concentração de evangélicos é de 15,8% e a de católicos, de 65,19%.

Marcelo Neri afirma que, de 2000 a 2005, a faixa mais pobre do país, concentrada nas áreas rurais, atravessou um período de ¿crescimento chinês¿, e que isso evitou a proliferação das igrejas pentecostais nessas áreas. Ele lembra que a melhoria dos indicadores nessas regiões começou com a Constituição de 1988, que determinou o pagamento de aposentadoria ao homem do campo. Os dois últimos anos do governo Fernando Henrique Cardoso, segundo ele, deram os passos iniciais da política social incrementada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para Neri, hoje o quadro tende a ser ainda mais favorável para a prosperidade católica nas áreas rurais.

¿ A igrejas pentecostais estão ocupando o lugar do Estado. E isso pode ser visto nas periferias dos grandes centros. Quanto mais presente o Estado, com seus serviços básicos, mais conservadora é a escolha pela religião. E a religião mais conservadora é a católica ¿ explica Neri.

Mulheres são a força da maioria das religiões

As mulheres são força dominante em 43 das 50 religiões pesquisadas pelo Censo 2000. As religiões mais patriarcais, como o judaísmo, o hinduísmo e o islamismo, são exceções. O percentual de mulheres sem religião era de 3,98% em 2003, enquanto o de homens era de 6,32%. Apesar de mais religiosas do que os homens, elas eram menos católicas há quatro anos (73,13%, para 74,47% do índice masculino), invertendo uma relação observada nos anos 40, quando o percentual era de 96% para mulheres e 95% para homens. Elas são, em contrapartida, mais ligadas às igrejas evangélicas pentecostais (13,51%, para 11,44% dos homens).

¿ Questões femininas como contracepção e divórcio são tabus para a Igreja Católica. E isso pode explicar o afastamento das mulheres do catolicismo. Mas elas continuam sendo as mais religiosas ¿ diz Marcelo Neri.

Quando o parâmetro é o grau de escolaridade, o maior índice de pessoas sem religião se concentra na faixa com mestrado ou doutorado (14,76%). Já entre os evangélicos pentecostais, o percentual é maior entre os que estudam nos cursos supletivos. O maior índice de católicos está entre os que fazem cursos de alfabetização para adultos.

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