Título: Enxurrada de dólares no país
Autor: Batista, Henrique Gomes e Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 03/05/2007, Economia, p. 23
DINHEIRO FARTO
Entrada de recursos no Brasil em abril, de US$10,7 bi, foi a maior em 25 anos.
Os altos juros, a elevada liquidez internacional, a forte queda do risco-Brasil - de 21,76% apenas este ano - e os sucessivos recordes na balança comercial fizeram o Brasil receber um volume histórico de dólares em abril: nada menos do que US$10,728 bilhões ingressaram no país, o maior valor já registrado desde 1982, quando foi iniciada a série histórica do fluxo cambial. O recorde anterior havia sido atingido em março de 1998, quando o fluxo cambial - que reflete o movimento de entrada e saída de moeda estrangeira no país, incluindo a movimentação decorrente de operações comerciais e financeiras - ficou positivo em US$10,3 bilhões. Em abril de 2006, o saldo foi de US$609 milhões. O mês teve também recorde na balança comercial, que apresentou superávit de US$4,203 bilhões, o maior para o mês na História.
Com o resultado do mês passado, o saldo acumulado de janeiro a abril de 2007 chegou a US$28,122 bilhões, montante 53,7% superior à entrada de US$18,301 bilhões do mesmo período do ano passado. E, para especialistas, a tendência é que, até o fim do ano, o fluxo cambial registre novos recordes, empurrando a cotação do dólar ladeira abaixo, cada vez mais perto dos R$2. Só este ano, a moeda já acumula queda de 5,28%.
BC já comprou mais dólares que em 2006
Para evitar uma desvalorização ainda maior, o Banco Central (BC) vem comprando moeda, fazendo as reservas internacionais encerrarem abril em US$121,83 bilhões. De janeiro até ontem, a autoridade monetária já adquiriu US$34,1 bilhões no mercado à vista, segundo cálculos do Departamento Econômico do Unibanco. Ou seja, em quatro meses, retirou do mercado quase o mesmo que em todo o ano passado: US$34,3 bilhões. Como tem comprado cerca de US$500 milhões diários, hoje o BC deve superar os níveis de 2006. Será um recorde desde que esse tipo de leilão começou a ser feito, em 2004, estima Darwin Dib, economista do Unibanco:
- O BC está fazendo hoje a intervenção recorde de todos os tempos. Mas é impossível controlar a tendência do câmbio, que tem grande chance de cair abaixo de R$2. Já vimos esse filme: é uma política equivocada, que só surte efeito a curto prazo e a um custo elevadíssimo - critica Dib.
Ontem, mais uma vez, o BC comprou US$500 milhões à vista e vendeu mais US$635 milhões em contratos de swap cambial reverso, que funcionam como uma compra de moeda no mercado futuro. O dólar, ainda assim, fechou em queda de 0,64%, cotado a R$2,024. A Bolsa de Valores de São Paulo subiu 1,05%. Já o índice Dow Jones avançou 0,58% e registrou novo recorde em pontos (13.211,88) - o quinto nas seis últimas sessões, o melhor período desde 1955.
O economista Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-presidente do BC, ressalta que, a despeito das críticas do dólar mais baixo, o elevado fluxo cambial dá a medida do crescimento do investimento direto estrangeiro no país.
No ano passado, o indicador ficou em US$18 bilhões e, segundo expectativas do especialista, deve atingir US$23 bilhões em 2007 e US$26 bilhões no ano que vem, aproximando-se do nível recorde histórico, atingido entre 1999 e 2000, no auge das privatizações: US$32 bilhões.
- Caminhamos para taxas chinesas de investimento estrangeiro. A China atrai cerca de US$55 bilhões, mas parte desse fluxo é dinheiro chinês aplicado fora do país. De estrangeiro mesmo, há cerca de US$35 bilhões. E esse crescimento dos investimentos é sensível à queda do risco-Brasil e à expectativa de que o país atinja o grau de investimento. É simplório pensar que estão aplicando no Brasil apenas por causa dos juros. O dinheiro que entra não vai apenas para Bolsa e títulos do governo: vai para aumento de emprego e de capacidade da indústria - diz Langoni.
Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), explica que a trajetória de valorização do real incentiva os exportadores a anteciparem a entrada dos recursos, antes que a cotação caia mais:
- Com isso, mesmo que o juro caia mais, a tendência é que o real continue se apreciando. E o dinheiro que entra é aplicado no mercado financeiro, compensando uma eventual perda devido à queda do dólar.
COLABOROU: Juliana Rangel, do Globo Online