Título: China garante bons preços no comércio exterior e derruba dólar
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 03/05/2007, Economia, p. 24

DINHEIRO FARTO: Impacto explica números da balança, mas assusta indústria.

"Commodities" estão em alta e valor dos produtos importados caiu até 7,4%.

Não só o dólar baixo está, simultaneamente, fazendo a festa dos consumidores e assustando a indústria nacional. A China, e os seus efeitos sobre os preços do mundo inteiro, também influenciou a recente farra dos importados e a crise dos exportadores. Graças à sua mão-de-obra barata, a China ajudou a derrubar o preço médio, em dólar, dos itens comprados do exterior pelo Brasil, como eletrônicos e têxteis.

E o país também tem peso na outra ponta da balança: o crescimento econômico chinês - que superou os 10% em 2006 e, este ano, segue em ritmo semelhante - aumentou a demanda global por matérias-primas. Com isso, o preço das principais commodities exportadas pelo Brasil disparou.

Em abril, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, o suco de laranja congelado vendido pelo Brasil estava 47,8% mais caro, em dólar, do que no mesmo mês do ano passado. A alta de preços, nesse período, chegou a 31,8% no óleo de soja bruto e a 40% no milho. Houve forte aumento ainda nas commodities metálicas: 34,9% nos semimanufaturados de ferro e aço e 12,8% nos laminados planos.

Manufaturados perdem fôlego nas exportações

Por outro lado, os produtos importados comprados pelo Brasil estavam em média 0,8% mais baratos em março (último dado disponível), do que no mesmo mês de 2006. Os bens de consumo duráveis - categoria que inclui os eletroeletrônicos - tiveram queda ainda maior que a média, de 2,3%. E nas máquinas e equipamentos (bens de capital), muitas vezes importados da China, o recuo dos preços chega a 7,4%.

- A China tem papel importante nos dois lados. Eleva os preços de nossas exportações e reduz o valor dos itens que compramos do exterior - explica Fernando Ribeiro, economista da Fundação de Comércio Exterior (Funcex).

A conjunção de preços de exportação altos e de importação baixos ajuda a melhorar as contas externas do país e, por tabela, derruba ainda mais a cotação do dólar no Brasil. Esse cenário também mascara a crise que a indústria exportadora está enfrentando, afirma José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O saldo comercial em abril foi recorde, mas, no acumulado deste ano, as exportações de produtos básicos cresceram 27,9%, enquanto as vendas externas de manufaturados tiveram alta de só 11,6%.

- Quem exporta commodities não tem do que se queixar, porque os preços subiram muito e o câmbio, nesse caso, é só uma questão de maior ou menor rentabilidade. Mas, nos manufaturados, o dólar está afetando a competitividade das empresas brasileiras, que estão perdendo mercado - diz Castro.

AEB prevê superávit inferior a US$40 bilhões este ano

Ribeiro, da Funcex, acrescenta que, no ano passado, o Brasil só conseguiu ampliar seu saldo comercial devido ao efeito dos preços favoráveis. Em 2006, o superávit do país foi recorde pelo quarto ano seguido, alcançando US$46 bilhões. Este ano, o efeito dos preços continuará favorável, prevê Ribeiro.

Mas, ao contrário do que ocorreu em 2006, a Funcex acredita que os preços, este ano, não vão compensar a perda de fôlego na quantidade exportada. Por conta disso, o saldo comercial tende a ser inferior ao de 2006, porém ainda acima dos US$40 bilhões, prevê a Funcex. Já a AEB prevê superávit menor do que US$40 bilhões, com as importações crescendo a um ritmo de 20% e chegando a US$110 bilhões. Uma expansão bem acima dos 8% previstos para as exportações que, assim, chegariam a US$145 bilhões.