Título: Petrobrás fará novos investimentos na Bolívia
Autor: Melo, Liana e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 03/05/2007, Economia, p. 27

Após Morales assumir controle do gás, empresa diz que aplicará US$200 milhões para expandir produção.

LA PAZ e BRASÍLIA. A Petrobras aceitou as regras impostas pelo governo boliviano e um dia depois de o presidente Evo Morales assumir o controle total do setor de petróleo e gás no país, a empresa não só assinou os novos contratos como anunciou um investimento de US$200 milhões no campo de San Antonio. Esse investimento, que deverá ser aprovado pela estatal boliviana, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), visa a produzir mais 3,5 milhões de metros cúbicos diários de gás. Hoje, a unidade está trabalhando no limite máximo da sua capacidade de produção, que é de 13 milhões de metros cúbicos diários. A Petrobras tem 90 dias para apresentar seu plano de expansão ao novo sócio.

Ao todo foram assinados 44 novos contratos envolvendo as empresas estrangeiras no país, cinco deles da Petrobras. Desses, apenas um não foi assinado.

¿ Vamos assiná-lo amanhã (hoje) ¿ disse o gerente de Exploração e Produção da Petrobras Bolívia, Fernando Borges.

Com os novos contratos, as empresas estrangeiras passam, segundo o governo boliviano, a atuar como meros prestadores de serviços do país.

¿ A expressão vem sendo usada como uma forma de subjugar os novos sócios, o que não contribui muito para a relação entre novos parceiros ¿ diz Borges.

Segundo ele, alguns dos contratos representam uma dose de risco, já que o investimento será arcado exclusivamente pela Petrobras. As empresas, por sua vez, aproveitaram a audiência com Morales, durante a assinatura dos contratos, para fazer cobranças. O porta-voz das reivindicações foi o presidente da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos.

¿ Agora, como sócios do governo, gostaríamos de cobrar do presidente segurança jurídica e paz social ¿ disse José Magela Bernandes, em nome das empresas estrangeiras.

Morales disse que ¿só existe segurança jurídica com reciprocidade¿ e aproveitou para cobrar do setor a abertura de novas frentes de trabalho.

José Alencar pede cumprimento dos contratos

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que o governo da Bolívia deu ¿prova de maior maturidade política¿, ao contrariar rumores de que haveria rompimento unilateral dos contratos sobre exploração de gás naquele país. Amorim se referia à ameaça do governo boliviano de confiscar o fluxo de caixa das duas refinarias da Petrobras que passarão para a YPFB.

¿ Ainda há o que negociar. Espero que essa maturidade continue ¿ disse o ministro, lembrando que o valor da indenização que será paga pelas refinarias da Petrobras ainda está sendo negociado.

No Brasil, o vice-presidente José Alencar defendeu a decisão do governo boliviano de nacionalizar a exploração de petróleo e gás, mas cobrou o cumprimento dos contratos com a Petrobras.