Título: BNDES pretende ajudar setor afetado por dólar
Autor: França,. Mirelle de e Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 03/05/2007, Economia, p. 28

Coutinho acena com redução de "spread" para indústrias prejudicadas por câmbio e quer ênfase em inovação.

O novo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que recebeu o cargo ontem no Rio, acenou com a necessidade de amenizar os efeitos da taxa de câmbio para os setores que vêm sofrendo com o dólar desvalorizado, como as indústrias têxtil, de calçados e de móveis. Ele disse que o banco pretende, a curtíssimo prazo, atender à demanda desse setores prejudicados, na linha do que já vem sendo alinhavado pelos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento.

Em um longo discurso, de dez páginas, no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi citado oito vezes, Coutinho defendeu ainda o fortalecimento dos setores de tecnologia de informação como forma de aumentar a competitividade do país no comércio exterior. A platéia de cerca de 500 pessoas, a maior parte empresários, aplaudiu de pé.

- O Brasil, nos últimos 20 anos, não conseguiu capturar as oportunidades que deveria (nos setores ligados a tecnologia e inovação), como aconteceu com as economias asiáticas. Essas áreas têm uma taxa de crescimento dinâmica, puxam investimentos, e o Brasil não pode pensar em ficar fora desse jogo - afirmou o presidente do BNDES, lembrando que o banco já tem linhas específicas para atender a essa indústria.

Banco terá metas para reduzir seus prazos

O novo presidente mostrou preocupação com o aumento das importações em alguns setores e com os possíveis danos desse cenário para a economia:

- Existe uma preocupação com os setores castigados pela valorização (do câmbio). É uma preocupação dos ministros Mantega (Fazenda) e Miguel Jorge (Desenvolvimento). No caso do banco, vamos melhorar as condições de financiamento para os setores afetados, eventualmente com redução spreads (diferença entre o custo do dinheiro captado pelo banco e o que é cobrado aos tomadores de empréstimos) - explicou.

O ministro Miguel Jorge, presente à cerimônia - que também contou com os ministros Carlos Lupi (Trabalho), Márcio Fortes de Almeida (Cidades), Gilberto Gil (Cultura) e José Gomes Temporão (Saúde) - cobrou de Coutinho a redução do prazo de liberação dos empréstimos do banco. Questionado, o presidente do banco afirmou que vai trabalhar para reduzir o tempo de análise e liberação dos financiamentos, hoje em torno de sete meses:

- Tenho conhecimento de que o banco vem fazendo um esforço para reduzir os prazos. Já há um processo de aperfeiçoamento de gestão e pretendemos acelerar e aperfeiçoar o que está em curso. Certamente existem metas a serem perseguidas.

Coutinho ressaltou, ainda, que o ministro Miguel Jorge também o teria alertado de que há sinais de que a indústria automobilística está prestes a iniciar um novo ciclo de investimentos no Brasil. Segundo ele, o banco estará atento a essa demanda.

Coutinho foi discreto ao comentar o comportamento das taxas de juros. De acordo com o presidente, "se depender de torcida", os juros caem mais depressa. Ele frisou, no entanto, que esse é um assunto do Ministério da Fazenda.

Discurso de Coutinho agrada empresários e exportadores

O discurso do novo presidente do BNDES agradou ao empresariado. O presidente da Gradiente, Eugênio Staub, disse acreditar na nova gestão:

- Ele se encaixa como uma luva (ao BNDES). Coutinho citou em seu discurso algo que estava fora de moda, que são os setores industriais com maior complexidade tecnológica. Isso mostra que o banco vai ter um novo foco.

Os exportadores, por sua vez, acreditam que Coutinho poderá ser mais uma voz em favor de um câmbio mais competitivo:

- Ele tem consciência do problema cambial. Por ter sido escolhido pelo próprio presidente Lula, poderá se fazer ouvir dentro do governo - afirmou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.