Título: 'A questão da reforma agrária me inquieta'
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 04/05/2007, O País, p. 4

Presidente ouve queixa de pecuarista sobre invasões de terra.

UBERABA (MG). Em um discurso para grandes produtores rurais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o governo não tem condições de fazer a reforma agrária ideal para atender às necessidades dos sem-terra. As dificuldades em implantar um projeto de reforma agrária completo, segundo Lula, o deixam inquieto. Na abertura de uma exposição de gado zebu, o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebus (ABCZ), Orestes Prata Tibery Júnior, cobrou de Lula atenção especial para as invasões de terra.

- Precisamos ter tranqüilidade para trabalhar sem o risco de termos nossa propriedades invadidas e destruídas - disse Tibery Júnior.

Lula não respondeu ao pedido do pecuarista. Apelou para dados históricos para justificar as dificuldades, afirmando que o Brasil foi o último país sul-americano a iniciar o processo de reforma agrária.

- A questão da reforma agrária é uma coisa que me inquieta. Por duas razões: primeiro, porque a gente nunca vai conseguir fazer do tamanho que as pessoas que precisam querem. E, segundo, o governo nunca tem dinheiro para compatibilizar a compra da terra com a exigência de fazer com que a terra produza o necessário, para que aquele companheiro que obteve a terra possa se transformar num produtor, viva do seu trabalho e possa ganhar dinheiro utilizando o máximo possível de tecnologia - explicou Lula.

Lula destaca incentivo à agricultura familiar

O presidente afirmou que o governo tem feito muito pela agricultura familiar e citou a ampliação das linhas de crédito, com juros mais baixos, destinadas aos pequenos produtores rurais. Segundo Lula, o Banco do Brasil, que emprestava dinheiro somente para os grandes produtores, agora também atende à agricultura familiar.

- O que estamos fazendo pela agricultura familiar é um passo extremamente importante. E queremos que (o Banco do Brasil) empreste mais para o grande e para o pequeno, porque um país capitalista como o Brasil precisa de crédito, e o crédito precisa ter taxas de juro mais compatíveis com a possibilidade de pagar de quem toma o crédito - disse Lula. Quando a taxa de juros é muito alta, empresta-se o dinheiro sabendo que não vai receber de volta, e talvez fique muito mais caro.

No final da cerimônia de abertura da feira, Lula comentou ainda a resistência da cidade a sediar um presídio federal. Para o presidente, uma cidade que recebe uma universidade federal também pode abrigar um presídio, desde que tenha segurança para evitar problemas para a população.