Título: Dom Geraldo Lyrio presidirá a CNBB
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 04/05/2007, O País, p. 11

Arcebispo de Mariana (MG), de 65 anos, foi eleito com 92% dos votos, índice histórico.

INDAIATUBA (SP). De linha moderada, mas apegado às questões sociais, o arcebispo de Mariana (MG), dom Geraldo Lyrio Rocha, de 65 anos, foi eleito ontem presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com 92% dos votos, um dos mais significativos índices das últimas eleições na entidade, e vai comandar a recepção ao Papa Bento XVI. Em sua primeira entrevista, logo depois da eleição, dom Geraldo afirmou que manterá diálogo com o governo, e que sua prioridade será "servir àqueles que mais precisam, o povo excluído".

- A CNBB nunca se negou a conversar com ninguém do governo, até mesmo nos momentos mais difíceis do período militar. A CNBB sempre manteve a sua total liberdade para dizer não quando achou que sua posição era essa - disse ele.

Dom Geraldo Lyrio recebeu 255 votos dos 276 bispos votantes que participam da 45ª Assembléia Geral, em Itaici (SP), e se elegeu no primeiro escrutínio, fato raro, pois a exigência de dois terços dos votos dificilmente é atingida. O novo presidente sucederá o cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador. Dom Geraldo garantiu que vai dialogar com o governo sem "grandes formalidades".

- Vai ser um diálogo aberto, respeitoso, construtivo e livre para acolher críticas e criticar quando for preciso. Nesse clima de simplicidade e sem grandes formalidades. A gente não precisa ficar de espírito armado contra ninguém e nem se posicionar contrário de antemão.

Arcebispo trocou Bahia por Minas

Dom Geraldo estava em Vitória da Conquista (BA) desde 2002. Em abril, foi nomeado pelo Papa para a pastoral de Mariana, que assumirá em junho. Em Conquista, o arcebispo deixa uma comunidade que admira seu trabalho, discreto mas ativo, em favor dos pobres.

Na segunda-feira, pouco antes de ir à Assembléia da CNBB, o bispo se despediu de Vitória da Conquista com uma declaração curta, que reflete o seu estilo:

- Estou honrado por assumir uma arquidiocese de reconhecida importância histórica, artística e cultural. Confesso que vou sentir por deixar a arquidiocese de Vitória da Conquista, depois de cinco anos de trabalho e dedicação.

Dom Geraldo era presidente da Regional Nordeste 3 da CNBB e 2º vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Este ano festeja 40 anos de ordenação sacerdotal. Em 1960, matriculou-se no Seminário Provincial do Coração Eucarístico de Jesus, em Belo Horizonte, onde cursou filosofia. Após quatro anos em Roma, onde se formou em teologia e se especializou em liturgia, foi ordenado sacerdote em sua terra natal, em 1967.

Pela primeira vez foram utilizadas urnas eletrônicas na eleição. Depois da eleição de dom Geraldo, de manhã, em outra votação, à tarde, foi eleito o vice-presidente, dom Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus. Dom Geraldo citou a fome como sua maior inquietação e criticou o abandono do povo e a concentração de renda no país.

- Uma das coisas que mais me cortam o coração é a fome. Como sou bispo do interior da Bahia, é ver a grande situação de miséria por que passa a nossa população. Isso corta o coração. Um país tão grande e tão rico não poderia ter um povo tão abandonado. Sempre andando pelo interior da Bahia eu me repito: não podemos mais continuar assim. A concentração de riqueza e de renda é muito grande e nós precisamos caminhar para uma sociedade mais solidária para que os bens sejam mais bem repartidos.

COLABOROU: Juscelino Souza, de Vitória da Conquista (BA)