Título: Depoimento de juiz revela como era o esquema de venda de liminares
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 04/05/2007, Rio, p. 21

Magistrado diz que desembargador era refém de integrantes de quadrilha

O juiz Ernesto Pinto Dória, do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas, preso durante a Operação Hurricane, deflagrada em 13 de abril, contou à Polícia Federal como funcionava o esquema de venda de liminares. Segundo reportagem do "Jornal Nacional", da Rede Globo, que teve acesso ao depoimento prestado no dia da prisão, o juiz faz várias referências ao desembargador José Eduardo Carreira Alvim, que também foi preso na operação.

Segundo Dória, Carreira Alvim seria um refém nas mãos de seu genro, o advogado Silvério Júnior, e de Jaime Garcia Dias. Silvério, um dos três presos convocados a depor ontem na Justiça Federal, se recusou a falar. Segundo as investigações, ele era intermediário entre os donos de casas de bingo e o desembargador.

Dória afirma no depoimento que Jaime foi nomeado relações-públicas da Associação de Bingos do Rio pelo vice-presidente da instituição, com a finalidade de conseguir liminares na Justiça que permitissem a exploração do jogo. Dória teria contado ainda que Jaime levou para a casa de Carreira Alvim o empresário de jogos Licínio Bastos -- também preso pela Polícia Federal - que, segundo ele, seria o grande mafioso dos bingos.

O juiz teria dito aos policiais que, há um ano e meio, Carreira Alvim começou a beneficiar as empresas de Licínio por meio de decisões em caráter liminar e de mérito, e que o desembargador teria recebido mordomias de Jaime, como jantares, viagens e camarotes no carnaval.

Perguntado se também ganhou dinheiro de Jaime, Dória teria dito que recebeu R$2.500 como empréstimo. E que, ao tentar quitar a dívida, Jaime rasgou o cheque. Segundo o documento apresentado pela reportagem, Dória encerrou o depoimento dizendo que costumava pedir dinheiro emprestado ao contraventor Antônio Petrus Kalil, o Turcão -- também preso na operação. Segundo o juiz, Turcão emprestava dinheiro cobrando juros.

Em depoimentos à Justiça, Licínio Bastos e José Renato Granado negaram as acusações. Jaime Garcia ficou em silêncio.

Ontem, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região negou pedidos de liminar em habeas corpus apresentados em favor de oitos acusados de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis: Nagib Teixeira Suaid, João Oliveira de Farias, Virgílio de Oliveira Medina, Silvério Nery Cabral Júnior, Paulo Roberto Ferreira Lino, Luiz Paulo Dias de Mattos, Ana Claudia Rodrigues do Espírito Santo e Jaime Garcia Rodrigues, todos presos durante a Operação Hurricane.