Título: Dólar derruba em até 43% preços de alimentos, bebidas e eletroeletrônicos
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 04/05/2007, Economia, p. 26

DINHEIRO FARTO: Vendas de artigos importados crescem até 30% nas lojas.

Com nova queda da moeda, consumidor pode ter produtos ainda mais baratos.

A moeda americana faz a festa de muitos brasileiros. O dólar baixo - que ontem fechou cotado a R$2,028 - barateou no último ano uma lista de artigos: de alimentos e bebidas a produtos eletroeletrônicos. Em alguns casos, os preços despencaram mais de 40%. Especialistas admitem ainda que, a se manter esse cenário, o consumidor pode ser beneficiado com novas baixas. A conferir.

No Pão de Açúcar, os preços dos vinhos recuaram até 37,3% desde abril de 2006. No Princesa, a baixa cotação do dólar barateou o uísque (-16%), os azeites (-8%) e os vinhos (-7%). E, no Zona Sul, o câmbio ajudou nas negociações com fornecedores de bacalhau, vinhos e azeites - com reduções de preços frente a abril de 2006 de até 25,41%, 22,91% e 11,21%, respectivamente.

- Outros produtos também caíram de preço, como nossa linha de pães franceses - disse o diretor do Zona Sul Jaime Xavier, que não descarta novas reduções. - Se o dólar se mantiver nesse patamar dos R$2 e se conseguirmos boas negociações, vamos repassar os descontos para o consumidor.

É o que também garante Genival de Souza, diretor do Prezunic. Nos supermercados da rede, o câmbio barato fez os vinhos ficarem até 10% mais em conta no último ano. A nova baixa do dólar também poderá ser sentida pelo consumidor - mas não imediatamente:

- Os efeitos podem ser sentidos nos próximos meses. Afinal, nossas compras com a indústria já foram realizadas. É claro que tudo dependerá das conversas com a indústria.

Notebooks, iPods, câmeras e filmadoras mais acessíveis

As bebidas também ficaram mais baratas no Lidador. Na rede, vinhos da América do Sul e da Europa registraram, desde abril de 2006, quedas médias de 15%. Mas o consumidor pôde encontrar reduções ainda maiores. Na filial do Shopping Tijuca, o espumante Costa Azurra, por exemplo, era vendido por R$32, há um ano. Hoje, sai por R$18,20 (-43,1%). Resultado: a venda de espumantes e vinhos subiu 30% nos últimos 12 meses.

- Percebi pelo movimento aqui na loja que as pessoas não hesitam em comprar importados. A tendência é baixar ainda mais os preços, se o dólar continuar a cair. De qualquer forma, o aumento da concorrência também vai garantir um preço mais acessível nos importados - comentou Luiz Garcia, gerente da filial.

O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que os efeitos do dólar podem ser sentidos, especialmente, na compra de produtos eletroeletrônicos.

- Quedas mais intensas podem não ocorrer: o dólar pode não se sustentar nesse nível.

Na A 17 Computer e Games, do Rio Sul, o câmbio garantiu iPods, notebooks e câmeras digitais até 25% mais em conta. Entre eles: câmera Sony W30 de R$1.199 para R$899 (-25%), e iPod Nano 2GB de R$999 para R$849 (-15%). O recuo dos preços aumentou em 15% a procura por esses produtos nas últimas semanas. E, na Mr. Ligadão do NorteShopping, a filmadora Sony Hi8 passou de R$1.999,90 a R$1.299,90 (-35%).

Componentes de produtos ficam mais baratos

Na avaliação de Arthur Isoldi, gerente de Notebooks da Lenovo, que desenvolve computadores, o dólar contribuiu - muito - para derrubar os preços de notebooks. Muitos componentes (chips e processadores) são importados. Ele lembra, porém, que as ações do governo também ajudaram:

- Em fins de 2004, um notebook inicial saia por R$3.999, e um avançado, por R$5.999. A MP do Bem baixou esses modelos para R$2.999 e R$4.999, respectivamente, em fins de 2005. O dólar levou esses artigos a preços de R$2.499 e R$4.400 em fins de 2006. Mais baixas em janeiro, para R$2.199 e R$3.999, graças ao PAC. Ainda pode haver baixas, pois os efeitos, nesse setor, são imediatos devido à concorrência. Há potencial para mais quedas de preço, e o dólar vai pesar.

Na Ambient Air, o câmbio fez com que mais consumidores tivessem acesso a aparelhos de ar-condicionado da linha Split. Como o custo caiu de um ano para cá, a procura cresceu 20% (março contra março de 2006).

- O produto se tornou mais acessível - disse Rodrigo Viana, gerente da Ambient Air.