Título: Blair nega que renúncia encerre vida pública
Autor: Duarte, Fernando
Fonte: O Globo, 04/05/2007, O Mundo, p. 31

Premier desmente boatos de que abandonaria Parlamento; segundo mídia britânica, ele pode assumir outro cargo.

LONDRES. Prestes a levar uma surra nas urnas nas eleições locais do Reino Unido, realizadas ontem, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, negou que uma eventual renúncia ao cargo também vá resultar em um abandono da vida política. Por intermédio de um porta-voz, Blair desmentiu os rumores de que também abrirá mão da vaga no Parlamento britânico.

O primeiro-ministro, cuja popularidade está em queda livre desde a decisão de apoiar a invasão do Iraque, em 2003, deverá anunciar a data de renúncia na semana que vem, e os veículos de comunicação britânicos ontem especulavam que a saída do governo também resultaria no abandono da vaga parlamentar pelo distrito de Sedgfield.

Trabalhistas devem perder 1/3 das cadeiras nas eleições

De acordo com as últimas projeções antes do pleito de ontem, o Partido Trabalhista poderia perder pelo menos 750 das 2.385 cadeiras que defende nas assembléias locais, incluindo em tradicionais redutos da legenda, como Sheffield, Blackpool e Blackburn, no norte da Inglaterra.

Depois das eleições locais de 2004, os trabalhistas detêm apenas 28% dos cerca de 21.900 postos. Este é o pior desempenho do partido desde 1973. No entanto, o percentual de seus principais rivais, os conservadores (39%), ainda não parece indicar um panorama assustador para as próximas eleições gerais, cuja data data-limite de realização é maio de 2010.

Jornais especulam sobre novos passos do premier

Para causar grande impacto, os conservadores precisariam de vitórias em cidades como Liverpool, Manchester e Newcastle, além de obter pelo menos 40% dos votos válidos na Inglaterra. Mas mesmo entre as fileiras trabalhistas há quem espere uma saída de cena mais radical do político que fez história ao se transformar no primeiro líder da legenda a conquistar três mandatos consecutivos no poder. ¿Não consigo imaginar Blair contente com o papel de coadjuvante no Parlamento. Seria embaraçoso para ele¿, disse um parlamentar, que preferiu não ser identificado, em entrevista ao jornal britânico ¿The Guardian¿.

A renúncia parlamentar, porém, poderia resultar num vexame ainda maior para os trabalhistas, pois uma eleição especial teria de ser convocada para o distrito de Sedgfield, que no último pleito majoritário teve um candidato conservador como o segundo mais votado, e Blair perdendo 6% dos votos que havia registrado em 2001. O partido também poderá ter problemas com os nacionalistas galeses, que têm a expectativa de ganhar mais espaço às custas da impopularidade de Blair.

Ontem, a mídia britânica já especulava sobre os próximos passos do futuro ex-primeiro-ministro. O jornal ¿Daily Telegraph¿ falava em reportagem sobre uma possível função de porta-voz especial para a África e o Oriente Médio, com direito à bênção do governo dos Estados Unidos.

Também havia grande interesse nos benefícios financeiros da dupla renúncia. Analistas políticos britânicos acreditam que Blair poderia ganhar pelo menos US$20 milhões já em 2007 apenas com palestras e aparições públicas em eventos, sem falar nos rumores de que livros escritos pelo premier atualmente estariam avaliados em pelo menos US$16 milhões.