Título: Policiais gravdos continuam na ativa
Autor: Rocha, Carla e Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 07/05/2007, Rio, p. 13

Autoridade quer esperar relatório da PF.

O chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, não vai afastar logo nenhum dos 62 policiais civis do Rio suspeitos de receberem propinas regulares para garantir o funcionamento de casas de jogos. Ribeiro disse ontem, durante as comemorações pelos 199 anos da corporação, que aguarda as informações do relatório da Operação Hurricane, da Polícia Federal (PF), que mostra o envolvimento dos policiais com os bingueiros. A máfia dos bingos, que pagava propinas regulares a policiais, foi revelada ontem em reportagem do GLOBO, baseada em transcrições de diálogos gravados pela PF.

Segundo Ribeiro, foi pedida oficialmente uma cópia do inquérito da PF, mas, até o momento, ele não recebeu o documento:

¿ Fiz a solicitação à PF, mas o relatório agora está na 6ª Vara. Já pedi à juíza, mas ainda não recebi o material. Como houve demora no envio, não posso agir com base no que sai na imprensa.

De acordo com pesquisadores de criminalidade e segurança pública, o envolvimento dos policiais com os donos de casas de jogo diz muito sobre como funciona o crime organizado na cidade. O sociólogo Geraldo Monteiro Tadeu, do grupo de pesquisa em violência e criminalidade da Uerj, afirma que esse tipo de relação é mais rentável que o tráfico.

¿ Não se trata de um bando de traficantes de chinelos. As conexões desses policiais são com políticos e autoridades ¿ acredita Monteiro.

Já o sociólogo Michel Misse lembrou que a subordinação de agentes públicos aos interesses de contraventores existe há mais de 50 anos. A favor da regulamentação e controle dos jogos, Misse afirma que ¿a ilegalidade fica atenuada quando a reação moral da sociedade não é consensual¿:

¿ O jogo do bicho já está ambientado na cidade. A proibição é uma hipocrisia.

O sociólogo Ignácio Cano pede que o crime organizado seja mais investigado:

¿ É preciso limpar a polícia, o parlamento e o Judiciário ¿ afirmou.