Título: Rejeição na periferia não é tão grande
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 07/05/2007, O Mundo, p. 20

PARIS. Há pouco mais de um ano, Tarek Mouadana era apenas mais um jovem de Argenteuil, periferia pobre de Paris. Até o dia em que ele interpelou Nicolas Sarkozy numa das raras visitas dele à periferia com um grito de ¿eu quero falar dos problemas daqui¿. Sarkozy anotou o seu número de celular, ligou para ele às 8h30m e propôs trabalharem juntos. Ontem, convidado da equipe de Sarkozy a assistir o discurso do novo presidente, Moudana garantiu ao GLOBO que apenas uma minoria dos jovens da periferia detesta o recém-eleito Nicolas Sarkozy.

O que representa a vitória de Nicolas Sarkozy ?

TAREK MOUADANA: Sarkozy é um homem político que veio ao banlieue (periferia pobre) para falar com os jovens. Ao contrário do que diz a mídia, Nicolas Sarkozy não é odiado por todos nos banlieues. Há uma minoria que não gosta dele. Alguns que não sabem como se comunicar e usam a violência. Mas há muitos outros que não gostam desta violência. Nós (do banlieue) estamos chamando atenção para os problemas de educação, emprego, formação, habitação, crise de identidade e da condição da mulher.

Mas Sarkozy chamou os jovens problemáticos de ¿racaille¿ (gentalha) e teve muitos problemas por causa disso...

MOUADANA: Ora, quando se fala de racaille eu não me sinto visado, assim como não me sinto visado quando se fala em homossexuais. Você sabia que tem uma marca de t-shirts que se chama racaille?

Muita gente disse que com a eleição de Sarkozy, jovens revoltados sairiam novamente queimando milhares de carros nas ¿banlieues¿.

MOUADANA: É inadmissível que as pessoas sempre associem as pessoas dos banlieues à violência. Não, não. Isso não vai acontecer. E se acontecer, não serão os jovens, mas sim os militantes, os opositores políticos, todas estas pessoas que trabalham para alimentar o ódio nos banlieues. Isso é infeliz.

Você ajudou Sarkozy desde o início em Argenteuil. E agora, tem algum projeto com o governo dele?

MOUADANA: Agora a gente vai beber para comemorar (risos). (D.B)