Título: Grileiros ameaçam até servidores do Incra
Autor: Awi, Fellipe
Fonte: O Globo, 06/05/2007, O País, p. 4

"Só vamos voltar lá quando tivermos certeza de que os pistoleiros deixaram a área", diz superintendente no Sul do Pará.

PACAJÁ E TUCURUÍ (PA). Nem os funcionários do Incra escapam dos perigos encontrados nos assentamentos do município de Pacajá e adjacências. Além da dificuldade que o lugar oferece para se criar uma infra-estrutura mínima, eles também sofrem com as ameaças de grileiros, madeireiros e pistoleiros.

- Já tivemos casos de servidores que tiveram de abandonar o trabalho, temendo por suas vidas. É o custo que se paga por ser uma área de colonização nova, numa fronteira agrícola e pecuária - afirmou José Raimundo Cepedo, chefe da divisão de obtenção de terras do Incra no Sul e Sudeste do Pará.

O caso mais recente envolveu dois topógrafos que trabalhavam no assentamento do Rio Cururuí e, assim como os assentados, foram expulsos a bala. Novamente o principal acusado é o fazendeiro Tenório Lacerda.

- Só vamos voltar lá quando tivermos certeza de que os pistoleiros deixaram a área - afirma o superintendente adjunto do Incra na região, Ernesto Rodrigues.

Ele nega que a opção de assentar na floresta seja uma questão de cumprir metas:

- A gente se obriga a criar assentamentos em condições complicadas por pressão dos movimentos sociais. O Estado brasileiro não tem capacidade operacional de atender a toda a demanda. Aqui não são áreas em que a gente faz o assentamento da maneira que gostaria.

A falha admitida pelo superintendente cria situações como a enfrentada pelo assentado Elias Souza, que foi encontrado carregando a pé, por uma estrada de terra alagada, alimentos comprados com o crédito dado pelo Incra. Ele foi largado no meio da estrada e teve que ir caminhando uma parte até em casa. Demorou dois dias para chegar.

Incra reconhece que assentamentos são ruins

O superintendente informa que, segundo a Constituição, as terras públicas são a primeira opção no processo de reforma agrária, até por ser a solução mais barata. Em seguida, vem a obtenção de terras não-produtivas e, por último, desapropriações. Dos 19 assentamentos de Pacajá, 12 são em terras públicas e 15 foram criados no primeiro governo Lula. Os outros são do governo Fernando Henrique. Mas ele reconhece que as condições dos assentamentos de Pacajá são "muito ruins":

- O pessoal fica à mercê da sorte, por ser uma área de difícil acesso e com muitos grileiros. Nós enfrentamos vários problemas para criar aqueles assentamentos, às vezes dependemos da proteção da Polícia Federal.

A Superintendência do Incra nas regiões Sul e Sudeste do Pará administra o maior número de assentamentos no Brasil. São 476, mais da metade do número total do estado. A meta de famílias assentadas na região, ano passado, foi de mais de nove mil famílias.