Título: Alvo de fofocas, apesar de discrição
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 06/05/2007, O Mundo, p. 46

PARIS. Até a candidata socialista surgir como um meteoro na cena presidencial francesa, o casal Ségolène Royal e François Hollande não despertava qualquer curiosidade. A história dos dois se resumia assim: estudaram juntos na famosa École Nationale d¿Administration (ENA), apaixonaram-se em sala de aula, moraram juntos, viraram políticos do mesmo partido (socialista) e tiveram quatro filhos sem se casar.

Mas agora que Hollande, secretário-geral do Partido Socialista, corre o risco de virar o primeiro-cavalheiro do Palácio do Eliseu caso Ségolène conquiste a Presidência, olhares mais curiosos começaram a prestar atenção nos passos dos dois. Tudo, claro, à francesa, isto é, discretamente, porque francês tem horror ao que chamam de falso moralismo americano e sua mania de bisbilhotar a vida de personalidades públicas. Na França, ninguém cai do poder por ter traído mulher ou marido. E esta regra não muda.

A grande imprensa não toca no assunto. Mas blogs e internet viraram um campo de batalha na campanha onde vale todo tipo de golpe baixo e rumores para derrubar o adversário. Royal é o alvo predileto na internet. Proliferaram rumores de que a bela candidata de 53 anos teria um amante na indústria e, o marido, na prefeitura de Paris. Ou seja, de que o casal-modelo é só fachada. Fofoca no melhor estilo de tablóide inglês.

¿Parece que junto com um `por dentro¿ do jornalismo, que respeita vidas privadas, está se desenvolvendo um `por fora¿ do jornalismo, que não tem ética¿, queixou-se a revista ¿Marianne¿, de esquerda. A ponto de Ségolène falar espontaneamente de sua vida privada no seu livro ¿Maintenant¿ (agora, em francês), em que responde a perguntas de Marie-Françoise Colombani. Ségolène garante que o casal forma uma ¿família amorosa¿. Ela descreve no livro as idéias feministas que fizeram sua marca ¿ a de que é possível ser feminina e, ao mesmo tempo, buscar igualdade, ter carreira, sem que isso seja impedimento para ter filhos ou família. Ela assume também um lado romântico ao confessar que depois de anos juntos quis se casar na Polinésia com Hollande ¿ que, temendo o ridículo, a convenceu a mudar de idéia. ¿Mas nós não precisamos disso para nos amarmos¿, disse.

No início de janeiro, uma desavença pública do casal sobre política de impostos e revelações sobre sua fortuna colocaram os dois sob os holofotes e alimentaram mais dúvidas sobre a solidez da dupla. Juntos há 26 anos, Ségolène e Hollande chamam atenção porque aparentemente conseguiram, até agora, separar a vida de casal da profissional. Os dois competem um com o outro. Mas isso não parece atrapalhar a relação pessoal. Na corrida pela escolha do candidato do PS à Presidência, Hollande era listado como pretendente, mas teve que abandonar o sonho porque a mulher passou disparado por cima dele, e de todos os pesos pesados do partido.

Ségolène foi ministra de Mitterrand. E na época Hollande também queria um lugar no governo socialista: foi ela quem o levou. Ségolène imprimiu estilo próprio. Como Sarkozy, ela sabe aproveitar a mídia. A mulher bonita e feminista quis provar que podia ser ministra e mãe. No dia 16 de julho de 1992, ministra do Meio Ambiente de Mitterrand, quebrou um tabu na França ao convidar a rede de televisão TF1 e a ¿Paris Match¿ para filmá-la e fotografá-la no hospital, algumas horas depois do nascimento de Flora, sua quarta filha com Hollande. E ao lado do leito da maternidade, uma pilha de dossiês do ministério.

Pouco se sabe sobre sua vida. A imprensa evita até algumas verdades circulando na internet. Por exemplo, sobre uma cirurgia na mandíbula que ela teria feito. Seu ortodontista teve problemas quando deixou circular um papel sobre sua cliente. (D.B.)