Título: Periferia é desafio para igreja e poder público
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 05/05/2007, O País, p. 12
Novo presidente da CNBB diz que visita do Papa é importante para o país e as religiões, não apenas a Católica
Eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, de 65 anos, se prepara para a visita do Papa Bento XVI, na semana que vem, e também para assumir a arquidiocese de Mariana, em Minas, no próximo dia 23 de junho, ¿véspera de São João¿, como faz questão de lembrar. Nesta entrevista, ele reconhece que a Igreja Católica tem dificuldades de atuar nas periferias, mas lembra que o mesmo problema é enfrentado pelo poder público, tal o crescimento e o descontrole dessas áreas. Ele fala dos desafios da Igreja na véspera da chegada do Papa e diz que a visita é importante para o país e para todas as religiões.
Adauri Antunes Barbosa
Como o senhor vai enfrentar a dificuldade da Igreja para atuar nas periferias das grandes cidades, onde está a parte mais pobre da população do país?
DOM GERALDO LYRIO ROCHA: A Igreja tem dificuldade de marcar presença nas periferias. Mas isso acontece não porque a Igreja não queira ir para as periferias. É porque as periferias crescem de uma maneira tão desordenada e tão acelerada que não há instituição alguma que consiga dar atendimento suficiente para esta realidade. Nem o poder público e nem a própria Igreja conseguem atender a um processo tão acelerado e desordenado.
Essa dificuldade tem relação com a diminuição do número de católicos no Brasil?
DOM GERALDO: Nós não deveríamos nos preocupar excessivamente com essas estatísticas. O Papa João Paulo II dizia que não estava preocupado com o número, mas com a qualidade dos católicos. O problema, então, não é meramente estatístico, é de crescimento da qualidade da vida eclesial. De que adianta todo mundo se declarar católico, se depois não vive convenientemente e de forma mais séria e segura a sua fé cristã?
A Fundação Getúlio Vargas identificou em pesquisa que o número de católicos parou de diminuir. O senhor acredita que as políticas sociais do governo, como o Bolsa Família, têm a ver com isso?
DOM GERALDO: Esses fenômenos normalmente são resultado de uma conjugação de causas. Não nego que essa possa ser uma das causas. Mas certamente não é a única. Acredito que a própria atuação da Igreja leva a isso. Por outro lado, há a questão, digamos assim, que é normal em tudo. Todos os processos têm um momento em que chega ao ponto alto e depois pode estancar e até entrar em retrocesso. Alguém já disse que, se os percentuais de alguma época se mantivessem permanentemente, por exemplo, se o percentual de êxodo de católicos para outras igrejas se mantivesse indefinidamente, então isso levaria ao fim da Igreja. Isso é impossível, não acontece. Historicamente e sociologicamente não é assim.
Mas as igrejas católicas estão com número menor de fiéis.
DOM GERALDO: Acho que o problema não se limita a um dado estatístico. Há um outro fenômeno que nem sempre é suficientemente observado, que é o crescimento da qualidade da vida eclesial. Percebemos que há uma vitalidade nas nossas paróquias, nas nossas comunidades, às vezes superior a situações de outras épocas, quando tivemos uma maioria católica que chegou a mais de 90%. Temos a atuação, por exemplo, das pastorais específicas: pastoral da criança, do menor, da juventude, da família, carcerária, da saúde, da sobriedade, enfim, é uma lista imensa. Além disso, temos os movimentos eclesiais que surgiram nas últimas décadas, que trouxeram um certo vigor interno. Fala-se muito no trânsito religioso, no êxodo de católicos para outras confissões, no entanto ninguém vê o esvaziamento das nossas igrejas, dos nossos templos. Pelo contrário, nossas paróquias estão todas elas em fase de crescimento. Não há nenhuma diocese que dissesse que as paróquias estão se esvaziando, que se precisaria agrupar paróquias ou extinguir paróquias. O movimento é ao contrário. O número de paróquias está crescendo em todas as dioceses, tanto na área urbana quanto na área rural.
Que avaliação o senhor faz do governo Lula?
DOM GERALDO: Nós continuamos sempre com a expectativa de que as atenções podem ser maiores para o social. A gente continua achando que o preço é muito alto, o custo social é elevadíssimo por causa da questão da dívida pública. Isso nos preocupa porque são recursos que vão sendo canalizados em uma direção e que poderiam estar oferecendo mais possibilidades, sobretudo nas políticas sociais, que viessem a atender mais as situações de carência do nosso povo. Ninguém desconhece os avanços do governo Lula na questão social.
A vinda do Papa pode ajudar a Igreja no Brasil a voltar a crescer?
DOM GERALDO: A visita do Papa ao Brasil tem um peso muito grande. Tem uma força simbólica de extraordinária importância. E essa força que o Papa irradia não se limita à população católica, transcende os limites da Igreja Católica. Ninguém pode negar que o Papa exerce uma liderança muito importante e reconhecida internacionalmente. A presença dele vai chamar a atenção do Brasil e trazer entusiasmo a todos os católicos. Tenho certeza de que a palavra que o Papa vai nos dirigir vai nos deixar muitas pistas para a própria ação da Igreja para os próximos anos.
Após três votações, bispo auxiliar do Rio é eleito secretário-geral da CNBB
Dom Dimas terá o papel de negociar com o governo e a sociedade
INDAIATUBA (SP). No terceiro escrutínio, depois de não ter conseguido dois terços dos votos nas duas primeiras votações, o bispo auxiliar do Rio, dom Dimas Lara Barbosa, de 51 anos, foi eleito ontem secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), durante a 45ª assembléia-geral da entidade. Dom Dimas, da ala mais moderada, derrotou por 192 votos a 75 o bispo auxiliar de São Paulo, dom Pedro Luiz Stringhini, e terá o papel de articular e negociar posições da entidade com a sociedade e com o governo.
¿ A CNBB está pronta para aprovar qualquer projeto do governo que venha beneficiar o povo. Mas, ao mesmo tempo, se reserva o direito de tecer alguma crítica sempre que não concordar com o governo, assim como de, eventualmente, fazer oposição a algum projeto ¿ afirmou o novo secretário-geral da entidade.
Dom Dimas, que é mineiro, formou-se em engenharia eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), e trabalhou no Instituto de Atividades Espaciais (IAE). Cursou filosofia e teologia. Ordenou-se padre em 1988. De 2000 a 2003 foi assessor da CNBB em Brasília.
Em entrevista, o arcebispo de Londrina (PR), dom Orlando Brandes, encarregado pelos bispos de falar sobre assuntos ligados à bioética, comentou a frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considerou hipocrisia não se aprovar o uso de preservativos contra a Aids.
¿ Não se trata de não querer evitar a disseminação de doenças, mas de coerência, de não se banalizar e induzir as pessoas, principalmente os jovens, ao sexo indiscriminado.
Dom Orlando criticou a possibilidade de realização de plebiscito sobre o aborto.
¿ É como se fosse dado o direito de escolher se a gente nascesse ou não ¿ disse.