Título: A cesta no PAC
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 08/05/2007, O Globo, p. 2

O aspecto mais positivo do balanço do PAC apresentado ontem é sua própria ocorrência, que se repetirá em quatro meses. Na seqüência, o programa será posto à prova, metas serão conferidas e cobradas. Negativo, o evidente atraso de projetos importantes, sobretudo na área de energia. Ainda que 52% deles estejam com andamento satisfatório, os 10% que, na classificação da ministra Dilma, estão no sinal vermelho são os mais cruciais para o crescimento.

Entre os sete com situação mais crítica, só uma obra, a do Aeroporto de Vitória, não diz respeito a energia. As outras seis, a exemplo das hidrelétricas do Rio Madeira, enfrentam obstáculos ambientais, num sinal de que a meta mais alardeada pelo presidente Lula ainda não foi conseguida. O verbo destravar continua no infinitivo.

As apresentações de ontem no Planalto deixaram também a impressão de que o PAC vai se transformando numa espécie de "cesta das virtudes" em que o governo joga todos os resultados positivos de sua gestão, mesmo que nada tenham a ver com o PAC. Na apresentação do ministro Mantega, por exemplo, foram capitalizados a queda dos juros, o declínio da inflação e o aumento do crédito. Esses fatores já existiam antes do PAC, embora constituam hoje a moldura econômica do programa. De sua parte, a ministra Dilma reconheceu atrasos na área de saneamento, habitação e urbanização de favelas, apesar dos elevados recursos disponíveis. Nas últimas semanas, o governo constatou a dificuldade das prefeituras para apresentar projetos tecnicamente consistentes, e passou a ajudá-las nisso. Até julho, o ministro Márcio Fortes terá de pisar no acelerador. A ministra compensou essa falha destacando que o Luz para Todos está 10% acima das metas. Esse programa integra o PAC, mas também já existia. Governos são dados a tocar bumbo, a mostrar o que é bom e esconder o que é ruim, como já foi dito. Quando o governo delira, toca sozinho, o bumbo não produz eco - na sociedade e nas forças econômicas. Assim como o presidente, seus ministros são dados a se entusiasmar com as próprias palavras. Mas, no caso do PAC, pode-se ouvir o eco.

Um dos maiores entusiastas do PAC no meio empresarial, o presidente da Abdib, Paulo Godoy, confessa frustração com os atrasos, mas vê um ganho fundamental na própria existência do programa: no estabelecimento de uma gestão coordenada e no espírito de urgência por ele criado para as obras de infra-estrutura, depois da longa letargia que ampliou os gargalos e os riscos de apagões. "É também novo e importante o fato de todo o país poder acompanhar, de forma transparente, o andamento dos projetos de uma lista de prioridades. Isso, não tínhamos. Daqui a quatro meses haverá outro balanço e resultados melhores serão cobrados", diz ele. Para os empresários, em especial os da construção civil, outra notícia ruim temperada com uma boa: Dilma anunciou o adiamento, para outubro, do leilão de licitação dos sete novos trechos rodoviários, previsto para este mês. Em compensação, foi abortado o plano estatista (defendido por alguns setores), pelo qual o próprio governo faria as rodovias. E prevaleceu a formatação defendida pelo setor privado: ganhará o direito de exploração a empresa que se propor a cobrar o menor pedágio.

Ficou também a impressão de que o Ministério de Lula se divide em dois grupos: o dos que estão suando a camisa para que o PAC aconteça e o dos que fazem cara de não ter nada com isso.