Título: Temas polêmicos no encontro
Autor: Gois, Chico de e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 08/05/2007, O País, p. 5

Bento XVI deve pedir a Lula volta de ensino religioso e ações contra aborto.

INDAIATUBA (SP). As tensões existentes entre a Igreja Católica e o governo brasileiro, principalmente em relação às propostas que o Papa Bento XVI apresentará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no encontro que terão na quinta-feira no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, são inevitáveis, mas devem ser entendidas em um "contexto plural", disse o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Ele foi encarregado de falar ontem em nome dos bispos brasileiros que participam em Indaiatuba (SP), na localidade de Itaici, da 45ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

- Naturalmente, quando se fazem discussões e se confrontam princípios e opções que são contrários, não deixa de existir uma tensão. Essas tensões existentes são inevitáveis e, sobretudo, devemos administrá-las no contexto plural - disse dom Walmor.

No encontro de quinta-feira com Lula, o Papa deverá sugerir que o Brasil retome a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas e crie barreiras legais, se possível constitucionais, para dificultar a aprovação de projetos que possam tornar mais abrangente a permissão de aborto no país, hoje só admitido em casos de estupro e risco de vida da gestante. O Itamaraty, no entanto, aconselhou o presidente a evitar qualquer compromisso formal que amarre o governo às posições do Vaticano. Em contrapartida, Lula deve falar a Bento XVI sobre os programas sociais que vem desenvolvendo em seu governo, principalmente o Bolsa Família, vendendo a idéia de que é uma solução a ser aproveitada em outros países pobres do mundo.

- Nós temos que construir juntos. Claro, a Igreja não vai se omitir em ditar a sua própria posição. Isso também é democrático. Omitir-se, e dizer "nós não vamos falar porque eles não vão aceitar", não seria justo - disse o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings.

Para dom Walmor, é esperada de Lula a defesa de uma "postura católica", uma vez que o presidente já se declarou católico, em relação à polêmica questão do aborto. Caso defenda posição diferente dos católicos, contra o aborto, ele afirma que Lula estaria sendo "incoerente".

- Esperamos de todos os que se professam católicos uma postura de católicos, verdadeiramente comprometida. Por isso nós estamos com esse (livro) "Sou católico - Vivo a minha fé", para que nenhum católico possa correr esse risco de dizer que é católico e, no entanto, tem opções e encaminhamentos em sua vida que são exatamente o contrário daquilo que é ser um católico - disse.