Título: ANJ sobre morte de jornalista: covarde crime
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Fonte: O Globo, 08/05/2007, O País, p. 12

No Brasil e nos EUA, entidades cobram apuração rigorosa do assassinato de Barbon Filho, executado em SP

BRASÍLIA E WASHINGTON. Entidades da sociedade civil, no Brasil e no exterior, condenaram ontem o assassinato do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, de 37 anos, morto a tiros, sábado à noite, em Porto Ferreira, a 228 quilômetros de São Paulo. Em 2003, Barbon Filho denunciou um esquema de exploração sexual de meninas no município. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, classificou de "crime de lesa-democracia" o crime. Em nota, cobrou das autoridades a apuração e a punição do crime.

- Toda vez que um jornalista sofre qualquer tipo de violência e constrangimento, em face do exercício de sua profissão, a vítima não é apenas ele: é a sociedade e o estado democrático de direito - afirmou Britto.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) enviou telegrama ao governador de São Paulo, José Serra, pedindo apuração rigorosa. Já o presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Nelson Sirotsky, também em nota, lamentou o crime e lembrou que há indícios de que Barbon Filho foi morto por causa das reportagens denunciando o aliciamento de menores:

"Foi um covarde crime por encomenda, que vitimou um profissional exemplar e atingiu a liberdade de imprensa. É vergonhoso que um jornalista seja morto por exercer sua profissão em favor da sociedade, em defesa dos menores e contra o crime organizado", disse o presidente da ANJ.

Dos envolvidos nos crimes, apenas um continua preso

As reportagens de Barbon Filho revelaram que menores de idade eram levados para festas em ranchos para fazer sexo com empresários, vereadores e um garçom de Porto Ferreira. Os envolvidos foram presos. No entanto, apenas o garçom Walter Mafra continua na prisão.

Os demais acusados foram libertados pelo regime de progressão de pena ou bom comportamento, inclusive o vereador Luís César Lanzoni, condenado a 45 anos de prisão. Ele conseguiu reduzir sua pena para dez anos e saiu após cumprir parte dela. Mesmo preso, foi eleito em 2004 e assumiu mandato de vereador.

Segundo o delegado Eduardo Campos, que investiga o caso, o jornalista estava com amigos em um bar; dois homens se aproximaram numa moto, um deles desceu e atirou no jornalista. Para o delegado, tudo indica que foi crime de execução.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em nota, afirmou que o crime é um atentado à liberdade de imprensa e cobrou apuração rigorosa. "Exige-se do poder público uma atuação exemplar, com rápida e criteriosa investigação, a fim de que os autores materiais e intelectuais do crime não fiquem impunes. Omitir-se nesse caso é um estímulo à repetição de crimes como esse", diz a nota.

Nos Estados Unidos, a Sociedade Interamericana de Imprensa cobrou do governo brasileiro agilidade na investigação. "Uma das hipóteses da polícia é que o assassinato poderia estar relacionado à sua atividade profissional. A família de Barbon disse que, devido às constantes ameaças, o jornalista teve de fechar o seu jornal Realidade", diz a SIP, em nota divulgada em sua sede, em Miami, e assinada por Gonzalo Marroquín, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, da entidade.

Em Nova York, o Comitê de Proteção aos Jornalistas também cobrou a prisão dos assassinos. "Pedimos às autoridades brasileiras que conduzam uma rápida e rigorosa investigação e que puna os responsáveis", diz a nota do comitê.