Título: Especialistas: medida gera tensão
Autor: Tavares, Mônica e Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 08/05/2007, Economia, p. 23

País tem um "talento para irritar" a Petrobras, admite executivo boliviano

LA PAZ. O decreto boliviano que afasta a Petrobras da exportação de derivados de petróleo poderá tornar mais tensas as negociações entre os dois países pela posse das duas refinarias que a companhia brasileira tem no país, na avaliação de especialistas locais.

O ex-superintendente de Hidrocarbonetos Carlos Miranda disse que a medida do governo é uma tomada de posição "um pouco dura" em relação à Petrobras, em sua estratégia de negociação para que a empresa venda as duas refinarias a um preço contábil, e não pelo valor de mercado, como quer a petrolífera brasileira.

- Acredito que, lamentavelmente, (...) de uns tempos para cá, temos um talento incrível para irritar nosso maior comprador (de gás) e maior investidor - destacou Miranda, referindo-se à Petrobras.

Já o ex-ministro de Hidrocarbonetos Mauricio Medinaceli afirmou que o decreto é "muito arriscado" porque pode causar mais tensão nas negociações pelas refinarias.

Sobre a discussão a respeito do preço das refinarias, Medinaceli acrescentou que "todo mundo sabe que já é tensa" e que o decreto poderá complicá-la, porque "parece uma medida unilateral, e não negociada".

Além das negociações com empresas estrangeiras, como a Petrobras, o governo da Bolívia enfrenta esta semana as demandas de vários setores, entre os quais os dos empregados da área de saúde, que ontem fizeram protestos em La Paz.

Os mais de 12 mil funcionários dos hospitais públicos do país completaram o seu 12º dia de greve, para exigir, entre outras reivindicações, aumento de 7% nos salários, um ponto percentual acima do aprovado pelas autoridades. Pelo menos 800 funcionários de hospitais estão em greve de fome para pressionar o governo, disse à agência EFE o representante da categoria, José Gonzáles.

Protesto de comerciantes gerou caos no trânsito

A ministra da Saúde, Nila Heredia, criticou a greve e confirmou que tomará medidas penais contra os que promovem a paralisação, por atentarem contra a saúde pública.

O mesmo aumento salarial é reivindicado pelos cem mil professores da rede pública das cidades e do campo. Os docentes realizaram uma paralisação na semana passada e ameaçam com outra para hoje.

A categoria mais radical nos protestos foi a dos vendedores de roupas estrangeiras usadas (cuja importação foi proibida), que começaram a cumprir as ameaças de realizar passeatas na sede do governo. Milhares de representantes do setor se concentraram na cidade de El Alto, vizinha a La Paz, e marcharam até a capital, o que provocou caos no tráfego e choques com opositores.

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