Título: Comissão vai sugerir demissão de Wolfowitz do Bird, afirmam fontes
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 08/05/2007, Economia, p. 24

Nobel de Economia sugere Armínio Fraga para a presidência do banco.

WASHINGTON e LONDRES. A comissão especial de investigação do Banco Mundial (Bird) concluiu que o presidente da entidade, Paul Wolfowitz, violou regras da casa ao promover uma funcionária, Shaha Ali Riza, sua namorada, em 2005, e dar a ela aumentos de salários além do limite permitido pelo regulamento interno. O informe, contendo o veredito e a apuração da comissão, formada por sete dos 24 membros do conselho de direção do Bird, foi entregue a Wolfowitz no domingo à noite. Uma cópia será encaminhada hoje à diretoria do banco, que então decidirá a sorte do presidente do Bird.

Segundo graduados funcionários do Bird, a comissão considera duas opções: sugerir a demissão de Wolfowitz ou uma moção de censura e não-confiança para fazer com que ele peça a sua renúncia.

Robert Zoellick seria forte candidato ao cargo

Em caso de uma votação, seria improvável que Wolfowitz conseguisse se manter no posto, apesar de o presidente dos EUA, George W. Bush, ter afirmado que continuava confiando nele. Acontece que embora os EUA sejam o principal acionista do Bird (com 16,4% de poder de voto), apenas Canadá e Japão apóiam abertamente a permanência de Wolfowitz, somando 28% do total de votos.

A decisão, prevista para hoje, poderá ficar para amanhã caso o Bird aceite o pedido de Wolfowitz para prorrogar por 24 horas o prazo que tinha para apresentar uma resposta à decisão da comissão. Se Wolfowitz perder o cargo, caberá à Casa Branca, segundo tradição iniciada desde a fundação do Bird, indicar um novo presidente. Fontes do governo dizem que um forte candidato seria Robert Zoellick, ex-chefe do Escritório de Comércio da Casa Branca.

Em um artigo publicado ontem no jornal britânico "Financial Times", o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz afirmou que a atual crise do Bird pode servir para pôr fim ao esquema de alternância da presidência entre americanos e europeus no Bird e no Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele, há excelentes opções nos países em desenvolvimento e citou o economista Armínio Fraga, que fez "um excelente trabalho" à frente do Banco Central brasileiro.

Braço-direito de Wolfowitz renuncia em meio a crise

Um sinal de que Wolfowitz estaria prestes a perder o cargo surgiu ontem, após a renúncia de seu braço-direito no Bird, Kevin Kellems. Wolfowitz criou polêmica ao nomear Kellems diretor de Estratégias em Assuntos Externos e conselheiro especial. A queixa de funcionários era a de que, além de não ter experiência no setor, e ganhar um salário generoso (US$250 mil anuais, isentos de impostos), Kellems agia como um capataz de Wolfowitz e não como diretor do banco.

- Ele impedia o contato de diretores com Wolfowitz - disse um alto funcionário.

Ao comunicar ao banco ontem que estava se demitindo, Kellems emitiu uma nota afirmando que, diante do clima de desconfiança que se estabeleceu no Bird, tornou-se muito difícil realizar a missão da instituição.