Título: Sinais da ruptura com Chirac
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 08/05/2007, O Mundo, p. 27

Ministros demitidos pelo atual presidente são cotados para assumir futuro governo de Sarkozy

Deborah Berlinck

O presidente eleito da França, Nicolas Sarkozy, escapou ontem para Malta - uma ilha no Mediterrâneo - com a mulher, Cecilia, e filhos para alguns dias de repouso, antes de assumir o poder, no dia 16. A imprensa, enlouquecida atrás dele, esperava-o no lugar errado: na ilha francesa da Córsega. Enquanto isso, em Paris, especulava-se sobre quem serão os escolhidos para o cobiçado governo. Um nome circula como quase certo para primeiro-ministro: François Fillon.

Fillon foi o conselheiro político de Sarkozy na campanha. Mais do que isso: foi o homem que se aliou a Sarkozy no período em que ele saía do ostracismo político, em 1998. Em 1995, Sarkozy traiu Jacques Chirac, seu padrinho político, ao apoiar Edouard Balladur na escolha do candidato do partido de direita (então RPR, atual UMP) à Presidência. Sarkozy apostou no candidato errado: Chirac virou presidente da República e Sarkozy era vaiado em reuniões do partido. Chirac nunca o perdoou, mas diante da obstinação e popularidade de Sarkozy, acabou por integrá-lo no seu último governo, como ministro.

"Nunca se viu alguém prometer o Matignon (lugar onde trabalha o premier francês) com tanto tempo de antecedência e com tal constância", comentou a revista "Le Point", referindo-se à escolha quase certa de Fillon.

Ministra da Defesa quer lugar no novo governo

Outro nome que circula como favorito para reassumir o Ministério das Relações Exteriores é Michel Barnier. Se as escolhas se confirmarem, marcarão, talvez, a primeira ruptura de Sarkozy com o antecessor: tanto Fillon quanto Barnier foram abandonados por Chirac. Fillon foi autor da única grande reforma que o atual presidente conseguiu fazer nos 12 anos no poder: a da Previdência. E Barnier era chanceler quando os franceses rejeitaram, em referendo, o projeto de Constituição da União Européia (UE) - uma derrota para o governo. Tanto Fillon quanto Barnier foram descartados por Chirac após o referendo.

A escolha de Barnier, se confirmada, dará um sinal forte à Europa, que vive uma crise institucional desde que a França rejeitou o projeto de constituição. Barnier não só foi comissário em Bruxelas -- centro do poder da UE -- como assessor de Sarkozy para questões internacionais na campanha. É o mentor da proposta de Sarkozy para criar um "tratado simplificado" da UE, para agilizar o funcionamento das instituições européias.

O presidente eleito deixou claro que uma de suas prioridades será a Europa. No seu discurso da vitória, disse:

- Hoje, a França está de volta à Europa.

Sarkozy quer reduzir para 15 - isto é, pela metade - o número de ministérios. Outros nomes fortes para integrar o governo, não se sabe ainda em quais pastas, são: Jean-Louis Borloo, que ocupou o cargo de ministro do Emprego, Trabalho e Coesão Social, e a bela Rachida Dati, juíza de origem marroquina. Xavier Bertrand, porta-voz de Sarkozy, é personagem-chave na composição do novo governo. O ex-premier Alain Juppé é cotado para presidir a nova Assembléia Nacional.

A prioridade de Sarkozy será assegurar maioria no Parlamento nas eleições legislativas, que acontecem daqui a cinco semanas, em dois turnos, nos dias 10 e 17 de junho.

- Vamos trabalhar para dar a ele a maioria mais ampla possível, para que possa pôr em prática suas promessas (de reforma) - disse a ministra da Defesa, Michele Alliot-Marie, que luta para fazer parte do novo governo.

Se Sarkozy fizer o que prometeu, sua primeira medida será uma lei para assegurar serviços mínimos no transporte público em caso de greve. Outra deverá ser a flexibilização da lei que limita o tempo de trabalho em 35 horas semanais. Segundo Xavier Bertrand, porta-voz de Sarkozy, o Parlamento eleito em junho começará a trabalhar "imediatamente" nas reformas. E, se necessário, trabalhará em junho para assegurar que as primeiras leis do governo Sarkozy sejam aprovadas antes de outubro, no outono europeu.