Título: Câmara aproveita visita do Papa
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 10/05/2007, O País, p. 3

Em sessão tumultuada por bate-boca, deputados aprovam o reajuste de 28,5%.

Com os holofotes voltados para a chegada do Papa Bento XVI, os deputados aprovaram, em sessão tumultuada por bate-boca entre a base governista e a oposição, o aumento de seus subsídios em 28,5%, que corresponde à inflação de 2003 a março de 2007. Pelo projeto da Mesa, os deputados e senadores terão seus subsídios aumentados de R$12,7 mil para R$16,5 mil, retroativo a 1º de abril.

Outro decreto, também aprovado ontem, reajusta os salários do presidente e do vice-presidente e dos ministros de Estado, na mesma proporção. A proposta fixa o salário do presidente em R$11,4 mil, e o do vice-presidente e dos ministros em R$10,7 mil.

O texto aprovado previa ainda um dispositivo para garantir aos parlamentares reajustes anuais automáticos, como é dado ao funcionalismo público - já chamado de gatilho salarial. Prevendo rejeição da sociedade ao artigo, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu sua retirada. A emenda foi rejeitada.

Como a pauta do plenário será trancada segunda-feira por três novas MPs, o segundo vice-presidente da Casa, Inocêncio de Oliveira (PR-PE), brigou e impôs a votação de um requerimento de urgência, com assinaturas de partidos aliados, para que o aumento fosse votado ontem, provocando tumultuada discussão no plenário.

À noite, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) encaminhou contra a votação em plenário. Gabeira e Chinaglia acabaram tendo uma áspera discussão. O deputado do PV cobrou de Chinaglia a explicação sobre quanto foi gasto no fim de semana com o custeio de uma viagem de parlamentares ao Uruguai, para a instalação do Parlamento do Mercosul. Disse ter sabido que cerca de 70 deputados viajaram em dois aviões da FAB. Chinaglia o chamou de mentiroso e disse que não aceitava que sua gestão fosse posta em dúvida, em relação à lisura de gastos do dinheiro público. Gabeira foi vaiado e Chinaglia, aplaudido.

Fernando Ferro (PT-PE), que esteve na viagem, foi ao microfone dizer que Gabeira afirmou que haviam ido 90 parlamentares, que fizeram uma farra num restaurante.

- Você mentiu! - atacou Chinaglia, levando o plenário a aplaudir com estardalhaço.

A guerra entre base e oposição começou quando Inocêncio propôs votar simbolicamente o requerimento de urgência e o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), pediu votação nominal. Além do PSOL, os líderes de PSDB e DEM não assinaram o requerimento. Sem acordo, ele foi aprovado nominalmente, por 356 votos a 85.

Apesar de ter assinado o requerimento, o PT encaminhou contra a urgência. Quando o líder Luiz Sérgio (PT-RJ) propôs a retirada da urgência, Inocêncio ficou irritado e, no microfone, acusou o líder do DEM, Onyx Lorenzoni (RS), de ter se comprometido a apoiar e estar tirando o corpo fora.

- O Onyx me disse que não assinaria a urgência, mas não faria nenhum discurso contra e apoiaria. Agora, vamos votar de qualquer jeito e eu quero ver quem tem palavra e quem não tem! - disse Inocêncio.

Onyx reagiu dizendo que dera a palavra apenas de que seu partido não iria obstruir a votação. Mas que não encaminharia a favor.

Ciro acusa o PT de "jogo rasteiro"

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) acusou PSDB, DEM e PT de fazer "jogo rasteiro" que só atrapalha a imagem da Câmara. Segundo ele, era incompreensível a posição dos partidos.

- Ou o reajuste é uma iniciativa decente ou indecente. Ou temos convicção de que é uma matéria legítima, limpa e ética, ou não. Ou o pessoal entende que é indecente e denuncia a indecência ou tudo mais são gestos teatrais - protestou Ciro.

Luiz Sérgio acusou a oposição de ter uma postura nas reuniões de líderes e outra no plenário da Câmara:

- Que postura é essa que em sala fechada é uma e aqui no plenário é diametralmente oposta? Não vamos entrar nesse jogo rasteiro de demagogia - protestou.