Título: Cada vez menos competitivo
Autor: Almeida, Cássia e Santos, Claudia dos
Fonte: O Globo, 10/05/2007, Economia, p. 27

Brasil recua 5 posições no ranking global do IMD, devido a carga tributária e burocracia.

Assombrado por antigos problemas - carga tributária alta, burocracia, juros elevados e infra-estrutura precária - e outros novos, como o apagão aéreo, o Brasil continua perdendo competitividade. Depois de cair duas posições ano passado, o país recuou do 44º lugar para o 49º no Relatório de Competitividade Mundial 2007, do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Gerencial (IMD, na sigla em inglês), divulgado ontem em conjunto com a Fundação Dom Cabral. Apesar das críticas, o documento afirma que a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pode permitir ao Brasil aproveitar o bom momento da economia mundial.

Os resultados econômicos favoráveis, com a revisão para cima do tamanho da economia brasileira feita pelo IBGE, o aumento das exportações, principalmente de bens com maior valor agregado, e os ganhos salariais não foram suficientes para fazer o Brasil avançar no ranking. Segundo Carlos Arruda, professor de inovação e competitividade da Fundação Dom Cabral e responsável pelo levantamento no Brasil, o fato de o país não ter investido em infra-estrutura e na melhoria do ambiente regulatório permitiu que outros países o ultrapassassem, como México e Rússia.

- A elevada carga tributária e a legislação complexa, que são historicamente entraves ao país, impactaram todo o conjunto de variáveis analisadas na pesquisa. A ineficiência governamental leva à falta de eficiência empresarial. As novas multinacionais, apesar de atraídas pela grandeza do país, não conseguem ter domínio de toda a legislação brasileira para atuar aqui. Assim, o país perdeu espaço - explica Arruda.

Investimento e câmbio são desafios

A liderança do ranking continua sendo dos Estados Unidos, seguido por Cingapura. Este ano entraram no ranking Lituânia (31º lugar) e Ucrânia (46º). O relatório analisa a economia de 55 países, considerando 323 indicadores quantitativos, baseados em dados estatísticos, e qualitativos, a partir da opinião de empresários ouvidos entre janeiro e março. O documento se propõe a ser uma ferramenta para analisar a "capacidade de um país em prover um ambiente no qual as empresas possam competir (eficientemente) e crescer".

Os fatores responsáveis pela queda do Brasil no ranking do ano passado permanecem em 2007: custo do capital, taxa de juros e carga tributária. A estes, segundo o relatório, somam-se novos desafios: "uma política cambial adequada às prioridades de expansão do comércio internacional, o aumento no nível de investimento, deficiências na estrutura de transporte aéreo e problemas no sistema de saúde e educação nacional".

O relatório de 2007, porém, faz uma ressalva otimista. Segundo o IMD, o crescimento das exportações de produtos industrializados (de maior valor) e a expectativa de implantação do PAC e do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) indicam que o Brasil pode ter condições de aproveitar o atual ciclo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) mundial. Com isso, o país poderia galgar posições em 2009 e 2010.

- A análise de um período de dez anos mostrou que os países que planejaram o crescimento de sua capacidade competitiva tiveram melhores resultados. Portanto, o Brasil tem tudo para melhorar nesse ranking, principalmente se houver a simplificação tributária esperada. É melhor ter um plano do que não ter nenhum. Acredito que, em 2009 e 2010, o Brasil tenha melhora significativa na sua posição no ranking - diz Arruda.

Pelo lado negativo, há o desempenho do Brasil em relação aos países que formam o chamado Bric - grupo das economias emergentes que inclui ainda Rússia, Índia e China. O Brasil foi o único a registrar queda no ranking.

A alta no preço do petróleo fez a Rússia ganhar posições na lista, ultrapassando o Brasil. Segundo Arruda, além do aumento das exportações do combustível e do crescimento da economia russa, também contou a favor do país o investimento em infra-estrutura:

- A Rússia aproveitou melhor que o Brasil o crescimento econômico mundial, diminuiu o déficit público, acumulou reservas e tem finanças públicas mais organizadas que o Brasil. Além disso, investiu em infra-estrutura e em tecnologia, uma coisa que o Brasil não fez.

O Brasil também foi o único dos Brics a perder em outra comparação feita pelo estudo: a competitividade em relação à mesma taxa apresentada pelo líder do ranking, os EUA, entre 1997 e 2007. Nessa comparação, 34 dos 55 países apresentaram desempenho superior ao dos EUA. Os destaques são Rússia (43º lugar), Jordânia (37º) e Eslováquia (34º) - todos com crescimento de 4,5% frente aos EUA -, Estônia (22º) e Colômbia (38º) - ambos com 3,5%. Já as maiores perdas são de Bulgária (41º, com -4,5%), Venezuela (55º), Indonésia (54º) e Argentina (51º), estes com -3,5%.

Relatório apela por reforma tributária

O recuo do Brasil frente aos EUA nesses dez anos foi de dois pontos percentuais, segundo o IMD. Uma análise preliminar, aponta o relatório, "sugere que a perda do Brasil pode estar associada à falta de melhoria significativa nos fatores de infra-estrutura", destacando as áreas de tecnologia e educação, nas quais o país ficou em 51º e 48º lugares, respectivamente. "O Brasil, nesses dez anos, ainda se destaca negativamente pela alta carga tributária, pelo custo do capital e pela excessiva burocracia e dificuldades enfrentadas por empreendedores que queiram iniciar novas empresas".

Segundo o IMD, de 2005 a 2007, o Brasil recuou sete posições no ranking, devido, principalmente, à falta de políticas de longo prazo. O desempenho foi medido em quatro grupos: Performance Econômica, Eficiência dos Negócios, Eficiência do Governo e Infra-estrutura. No primeiro, o relatório aponta como pontos competitivos os fluxos e estoques totais de investimentos diretos recebidos pelo país - mas lembra que, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), eles recuaram 2% em 2006, enquanto em Turquia, Chile e Índia cresceram, respectivamente, 76,3%, 48,4% e 44,4%.

Com relação à Eficiência do Governo, corrupção, violência e burocracia são pontos negativos. Em Infra-estrutura, o IMD lembra a baixa qualidade do ensino brasileiro. E, em Eficiência dos Negócios, afirma que a reforma tributária é urgente para tornar as empresas mais competitivas.

Além de ressaltar a expectativa positiva com relação ao PAC, a Fundação lembra que o relatório é influenciado pelo clima do país. E afirma que, se o Brasil conseguir aproveitar o momento favorável da economia mundial, certamente avançará no ranking de competitividade.