Título: Petrobras dá prazo até meio-dia para a Bolívia
Autor: Oliveira, Eliane e Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 10/05/2007, Economia, p. 29

Estatal opta por meio-termo e pede US$112 milhões pelas duas refinarias, contra os US$60 milhões oferecidos.

BRASÍLIA. A Petrobras deu prazo até hoje, ao meio-dia, para que a petrolífera boliviana YPFB responda se aceita ou não sua última proposta, formulada durante jantar entre técnicos na noite de terça-feira em La Paz. A estatal brasileira pediu US$112 milhões pelas duas refinarias que foram expropriadas pela Bolívia. Segundo fontes ligadas ao governo brasileiro, as negociações estão muito desgastantes, e a Petrobras não quer prolongar as discussões. Por isso, a estatal decidiu chegar a um meio-termo entre os preços que a Bolívia oferecia - cerca de US$60 milhões - e o pedido - entre US$120 milhões e US$160 milhões.

Se não houver acordo, o primeiro passo será recorrer a uma Corte Internacional para fazer valer seus direitos. A Petrobras, inicialmente, havia dado prazo de 48 horas para a Bolívia se manifestar sobre a proposta apresentada na segunda-feira, quando a estatal decidiu se retirar da atividade de refino no país vizinho.

Uma fonte do governo brasileiro lembrou que os US$112 milhões da nova proposta não repõem os investimentos feitos desde a compra das duas refinarias, há sete anos, mas é 86,7% maior do que a Bolívia vinha oferecendo.

A Petrobras gastou nas duas refinarias US$180 milhões: comprou-as por US$102 milhões e investiu US$78 milhões. As duas unidades, segundo técnicos da empresa, estavam sucateadas. Mas o governo brasileiro prefere não falar em prejuízo com o acordo que a estatal pretende fechar com a Bolívia. A idéia é evitar perdas significativas.

A própria Petrobras negou ontem que tenha reduzido o preço exigido pelas duas refinarias. Manteve sob sigilo o valor oferecido - sem confirmar tanto os US$112 milhões quanto o pedido original, de até US$160 milhões.

Mas o presidente boliviano, Evo Morales, afirmou ontem à noite que a Petrobras "baixou bastante" sua proposta:

- O importante é a decisão política e a decisão política do povo boliviano é recuperar (as refinarias) e a do presidente Lula é devolver a um preço justo, que está em debate.

Ao ouvir a nova oferta, o governo boliviano pediu mais um dia para avaliar os números, o que foi visto com bons olhos pelo governo brasileiro. Na avaliação das fontes, isso seria o efeito da ameaça feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e reiterada esta semana pelo Itamaraty, de que as relações bilaterais ficarão comprometidas com a radicalização do governo boliviano. Ou seja, além da saída da Petrobras do refino, Morales perderia os benefícios anunciados no início do ano, como o aumento das importações de produtos bolivianos.