Título: Juíza invalida acusações contra Posada Carriles
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 10/05/2007, O Mundo, p. 34

Cuba, Venezuela e Nicarágua criticam decisão.

MIAMI. Uma juíza americana invalidou todas as acusações contra o cubano Luis Posada Carriles, a menos de uma semana de o ex-agente da CIA ser submetido a julgamento. A decisão gerou críticas dos governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua, que o acusam de terrorismo.

A juíza Kathleen Cardone, do distrito de El Paso, no Texas, invalidou as sete acusações de fraude imigratória. Segundo ela, as declarações do acusado, de 79 anos, que o governo pretendia usar foram obtidas de forma inconstitucional. Posada Carriles foi preso em maio de 2005, ao entrar ilegalmente nos EUA. Funcionários do governo americano lhe fizeram acreditar que era submetido a uma entrevista de imigração, quando na verdade tratava-se de um interrogatório criminal.

¿As táticas do governo neste caso são tão extremamente horríveis e intoleráveis que violam o sentido universal de Justiça¿, escreveu a juíza na sentença.

Posada Carriles é acusado do atentado a um avião que decolara de Caracas para Havana com 73 pessoas a bordo, em 1976. É acusado ainda de ataques a hotéis em Havana e de complô para assassinar Fidel Castro. Cuba exige sua extradição para a Venezuela, de onde ele escapou em 1985, quando esperava julgamento. Os EUA se recusam a extraditá-lo, dizendo que a Venezuela não oferece garantias de segurança para o ex-agente.

A reação de Cuba foi imediata, acusando a Casa Branca de ser responsável pela liberação do ex-agente da CIA.

¿ O fato de Posada Carriles, o terrorista mais sanguinário do hemisfério, estar completamente livre em Miami é uma prova da hipocrisia e da moral dupla deste governo dos Estados Unidos ¿ disse o chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, em visita a Caracas.

Pérez e o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, afirmaram que a decisão era uma manobra para evitar que Posada Carriles conte ¿tudo o que sabe e o que fez para o governo dos EUA¿.

¿ A Venezuela vai reiterar diante de uma instância internacional o pedido de extradição do terrorista ¿ anunciou Maduro.

Os dois governos apresentaram em abril uma denúncia sobre o caso ao Comitê contra Terrorismo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A mesma juíza o liberou há um mês sob uma fiança US$350 mil. Desde então, ele está em Miami com a mulher à espera de um julgamento que estava programado para a próxima segunda-feira.

Em Manágua, o Ministério de Relações Exteriores condenou a decisão da juíza e reiterou seu pedido de extradição do ex-agente para a Nicarágua ¿para ser julgado por operações de terrorismo contra o país nos anos 80¿.