Título: Tensão na coalizão
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 11/05/2007, O Globo, p. 2

Depois de reeleito, o presidente Lula levou quatro meses para recompor o Ministério. Talvez planeje demorar tanto ou mais para fazer as mudanças no segundo escalão. Talvez acelere, diante dos sinais de estresse na coalizão, que já se manifestam nas votações. Foi com uma folga de apenas oito votos que o governo derrotou, anteontem, emenda da oposição obrigando-o a pagar mensalmente, e não só em dezembro, o aumento de repasses para os municípios.

Eram necessários 308 votos, o governo teve 317. Embora a oposição não tenha mais que 130 votos, neste tipo de votação - de destaques a emendas constitucionais - o governo é que tem que apresentar a maioria de 3/5 de votos. Se na próxima terça-feira estes oito votos forem tragados pela insatisfação, o governo pode sofrer uma derrota cara, literalmente cara. Neste dia, será votado outro destaque da oposição, propondo algo ainda mais indesejado pela Fazenda. Retira do texto a frase que fixa o mês de agosto como data de início do aumento de um ponto percentual nos repasses ao FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Os prefeitos já aceitaram. Contam com o dinheiro, acumulado entre agosto e dezembro, para pagar o décimo-terceiro salário dos servidores. Se a coalizão não consegue os 308 votos, o aumento passa a valer a partir de agora, ao custo de R$150 milhões por mês.

A insatisfação na base com a demora das nomeações no segundo escalão concentra-se no PMDB. Os ministros já foram nomeados, mas há muita gente ainda para ser acomodada. Quem apóia o governo, quer seu quinhão. Gostemos ou não, é assim que as coisas funcionam, aqui e alhures.

No Planalto, ouve-se que as nomeações serão aceleradas nos próximos dez dias. Mas que só serão aceitos os indicados que, além de boa ficha ética, tenha afinidade técnica com a área. Esta informação, vinda de auxiliar do presidente, foi acompanhada da afirmação de que o ex-prefeito Luiz Paulo Conde tem chance zero de vir a ser presidente de Furnas. Nada contra ele, ressalvou a fonte, dizendo que Conde poderia muito bem ser aproveitado em sua área de formação: urbanismo e habitação.

Ontem, Conde telefonou para declarar:

- Estou muito feliz como secretário de Cultura do governador Sérgio Cabral. O partido quis me indicar, assenti. Com minha experiência administrativa, poderia colaborar. Se há veto, deve ser apresentado ao partido. Mas com outra desculpa. Durante anos a área energética foi comandada por gente do ramo, e nem por isso evitou-se um apagão e o risco de outro.

Num dia tumultuado pela negociação do preço das refinarias com a Bolívia, o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, recebeu ontem o presidente do PMDB, Michel Temer, e o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Foram defender os nomes indicados para o setor. Além da presidência de Furnas para Conde, pediram uma diretoria da Petrobras e a presidência da BR-Distribuidora. O ministro prometeu ajudar, e teria até negado a rejeição de Conde. Embora saiba que nada se decide sem passar pelo crivo do Gabinete Civil.