Título: Collor justifica confisco da poupança em ação
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 11/05/2007, O País, p. 9

Ex-presidente processa concessionária por uso de imagem.

BRASÍLIA. Entre as milhares de ações esquecidas pela Justiça, e sem data certa para serem concluídas, está um documento curioso. Em 1999, sete anos após ter sofrido o impeachment, o ex-presidente Fernando Collor de Mello processou uma pequena concessionária de automóveis gaúcha. Pediu R$4 milhões de indenização por danos morais porque, no anúncio de um modelo sofisticado da montadora americana Chrysler, a empresa estampou a foto de Collor dizendo que os clientes nem precisariam confiscar a caderneta de poupança de ninguém para conseguir comprar o carro.

Na época, o ex-presidente dirigia um Chrysler do mesmo modelo da propaganda. O texto da propaganda dizia: "Algumas pessoas fazem qualquer coisa para comprar um Chrysler 300M. Depois de conhecer as condições especiais do Franklin (o nome da loja), você vai ver que não precisa confiscar a poupança de ninguém para comprar um".

Collor, que na época nutria esperanças de reconquistar nas eleições de 2002 o cargo perdido, se ofendeu: "Para valer-se do prestígio do ex-presidente da República, foi usada indevidamente a sua imagem, atribuindo-lhe proceder criminoso, para expender a idéia de que se "o mal-feitor" compra um Chrysler com mais razão compra o cidadão honesto", diz a ação.

Processo se perdeu na burocracia cartorária

O político alagoano, que assumiu uma cadeira no Senado neste ano, vai além: aproveita para explicar os motivos que teve para adotar a controvertida política econômica de seu governo. "Tornado presidente de um país falido, com os bens públicos e particulares, no exterior, sendo aprisionados, como ocorreu com navios e aeronaves; com milhares de estudantes impossibilitados de receberem recursos ou qualquer remessa de numerários, uma das medidas que se ofereceu foi o congelamento da poupança."

O parlamentar também atacou seu antecessor na presidência, José Sarney. Ele diz que "assumiu a presidência da República no pior momento econômico da História, eis que na única vez em que havia sido declarada a insolvência internacional, ou seja, a bancarrota decretada que havia sido deixada por seu antecessor, que havia naufragado numa inflação de mais de 80% ao mês". O texto da ação termina com uma frase típica do arsenal de Collor: "a honra está acima da vida".

A lista de movimentações da ação é uma ode à burocracia cartorária. Depois de quase oito anos de vai-e-vem entre as partes, o caso permanece no mesmo lugar: a 16ª Vara Cível de Porto Alegre, sem previsão de conclusão. Procurado pela reportagem, Collor não se manifestou sobre o assunto.