Título: SP: um ano após ataques, 4 ainda desaparecidos
Autor:
Fonte: O Globo, 11/05/2007, O País, p. 12

Polícia afirma ignorar existência dos casos; família diz que há falta de interesse do governo para apurar

BRASÍLIA. Um ano depois da onda de ataques a postos policiais e prédios públicos em São Paulo, quatro pessoas continuam desaparecidas. Há indícios de que os desaparecimentos estão relacionados aos atentados realizados por uma organização criminosa paulista, em maio de 2006, mas o ouvidor da polícia paulista, Antonio Funari Filho, preferiu ontem ignorar a existência dos casos, ao participar de ato público realizado para marcar o aniversário de um ano da onda de violência.

O secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, também afirmou desconhecer casos de desaparecimento.

¿ O senhor está me dando esta notícia ¿ disse Marzagão, em entrevista.

Um dos quatro desaparecidos é Paulo Alexandre Gomes, que saiu de casa em Itaquera (Zona Leste) na noite de 16 de maio de 2006 e não voltou. Segundo a família, Paulo foi visto pela última vez na entrada de uma boca de fumo.

¿ Dois carros da polícia chegaram, quem estava com ele fugiu e ele sumiu ¿ resume a irmã de Paulo, a estudante de Serviço Social da PUC-SP, Francilene Gomes Fernandes.

Paulo tem perfil da maioria das vítimas da polícia, que depois dos ataques iniciou um revide que determinou a morte de 123 pessoas naquela semana de maio: jovem (23 anos), desempregado, ex-presidiário e morador de periferia.

Para Francilene, não há interesse do governo em apurar esses casos.

¿ Ele (o ouvidor) nem sequer mencionou, é um absurdo isso. Há outros desaparecidos além do meu irmão e o ouvidor sabe disso ¿ reclama Francilene.

A irmã de Paulo luta para que seja aberto um inquérito policial , o que permitiria que fossem feitas investigações. No momento, o sumiço está sendo tratado somente pela Delegacia de Desaparecidos, que registra cerca de 50 casos por dia na capital.

Segundo balanço divulgado ontem pela Secretaria de Segurança Pública, 22 vítimas de arma de fogo de maio de 2006 foram enterrados como indigentes, sem identificação.

Sobre o caso de Paulo, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos sugeriu ao governo a exumação dos indigentes para exames de DNA.

¿ Quem sabe ele não está preso ¿ acredita o pai de Paulo, o aposentado Francisco Gomes, 61 anos.