Título: OIT diz que discriminação contra negros e mulheres recuou no Brasil
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 11/05/2007, Economia, p. 28
Especialistas lembram, porém, que persiste desigualdade de salário e educação.
BRASÍLIA. A discriminação de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro caiu em dez anos, entre 1995 e 2005. Segundo o Relatório Global da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre direitos e igualdade - elaborado com base em dados diversos e pesquisas do IBGE -, o mercado absorveu mais mulheres e negros no período que homens, especialmente brancos. Enquanto o percentual de trabalhadoras cresceu 30,2%, o de trabalhadores expandiu-se apenas 10%. Se o recorte for por raça, o número de negros ocupados aumentou 33,1%, e o de brancos, apenas 15,1%.
Os dados femininos abertos também exemplificam o avanço. Entre 1995 e 2005, o número de vagas abocanhadas pelas mulheres negras cresceu 40,8%, enquanto para as brancas a expansão foi de 22,4%.
- Há uma tendência de redução da desigualdade. Mas há ainda uma enorme distância entre homens e mulheres e entre negros e brancos, se for considerada a taxa de ocupação e os rendimentos - afirmou a responsável pelo levantamento da OIT, Rosângela Sanches.
A taxa de ocupação, que reflete quantos estão trabalhando no universo populacional de cada grupo, também reflete as mudanças. Ela avançou mais - cinco pontos percentuais - entre as mulheres negras (de 12% para 17%) e homens negros (de 19% para 24%). Já a participação das mulheres brancas subiu de 16% para 19%, e a de homens brancos, de 23% para 25%. Segundo a OIT, dos 85,2 milhões de pessoas ocupadas em 2005, 70,5% eram mulheres e negros.
OIT identifica barreiras para deficientes e obesos
A redução da desigualdade, porém, foi influenciada pelo baixo crescimento da ocupação dos homens brancos, principalmente profissionais de maior qualificação e remuneração.
Rosângela lembrou que o trabalho doméstico ainda tem peso significativo, mantendo sua proporção praticamente inalterada no período: 17%. Por isso, para Honorina Augusta de Matos, de 45 anos, apesar dos avanços, a mulher é ainda discriminada, principalmente se for negra. Ela conta ter sentido isso na pele ao tentar uma vaga como vendedora de loja ou atendente de restaurante:
- Quando chego lá, eles nem pegam o meu currículo: afirmam que só se for para serviços gerais, como vendedora não dá. Isso dói - disse ela, que hoje trabalha numa firma como auxiliar de limpeza, apesar de ter nível médio e feito curso de informática.
Outra desigualdade que persiste é a salarial. Segundo a OIT, os ganhos de renda das mulheres foram inferiores aos dos homens. O rendimento médio (em valores de fevereiro de 2007) das negras subiu de R$223 para R$316 ao longo de dez anos, e o das mulheres brancas, de R$447 para R$474 - acima do dos homens negros, de R$421. Já a renda dos brancos caiu de R$715 para R$632, devido, principalmente, à má qualidade dos postos de trabalho gerados no período.
Para o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), isso comprova a revolução das mulheres no mercado de trabalho. Mas ele contesta os avanços para os negros, lembrando que os dados de educação ainda são desfavoráveis:
- A taxa de matrícula no ensino médio dos negros é de 77%, e a dos brancos, de 85%.
A OIT identificou ainda, no Brasil e em outros países, novas barreiras: contra portadores de HIV, de deficiências, fumantes, obesos e os que têm predisposição genética a doenças.